segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Definido

Definido
Pedro Widmar

Este natal já sabia o que ia ganhar. Pedi a todos que contribuíssem para me dar um dicionário Houaiss. Desde vê-lo pela primeira vez fiquei encantado. Adoro livros. De toda espécie, e pra quem acha que não se pode ler um dicionário, digo pfff. Mas fiquei decepcionado ao examinar a publicação pois sempre tive a mais alta opinião de sua integridade. E admito que por isto não desisti dele ao ver que algumas definições estavam incompletas enquanto outras estava plenamente erradas. Atribuo estes erros de definição em maior parte a serem definições que apesar de caberem nos dicionários internacionais não se conduzem com a realidade do Brasil. Porem, Submeto então minhas sugestões para aprimorar a edição que categorizei em duas partes: definições acrescentadas e definições re-escritas.

Definições Re-escritas

Cidadão- Um ser sujeito a todas as imposições do governo, sendo elas financeiras ou proibitórias, que em nenhuma hipótese deve se beneficiar de algum de seus direitos. O ente apesar de reclamar obsessivamente dos problemas infra-estruturais do seu sistema político, não deve se submeter a qualquer esforço para muda-lo. Predominante na vida do ente deveria sempre estar o futebol.

Político- Um ser cuja eleição democrática o determina impunível pelas normas sociais, e que é encarregado de agir nos interesses próprios para garantir o enriquecimento desproporcional à quantidade de trabalho durante seu mandato. Este apesar de ter algum conhecimento das realidades do território ao qual governa, não deve se aproximar desta realidade. Por isto deve ser remunerado de maneira que o deixe viver fora dos padrões de seus sujeitos. * mais facilmente comparado a nobreza do que com funcionário publico.

Imposto- Carga tributaria imposta a cidadãos (excluindo sempre políticos e seus parentes) que é distribuído entre setores do governo. A carga monetária uma vez distribuída deve ser destinada ao melhoramento de instituições publicas. Este sistema se baseia numa relação monetária em que por toda parte digamos (X) que se encaminha à instituição, uma certa parte (Y) deve ser depositada diretamente numa conta off-shore para o uso do político que gerencia aquela instituição e outra parte (Z) para a conta de quem a depositou. **Normalmente a relação entre as três partes funciona de tal modo. Z+Y= X/2

Melhoramento- uma espécie de publicidade escrita ou verbal que demonstra as fartas melhoras de algo, independente de seus reais índices de progresso ou se de fato o mesmo existir.

Responsabilidade- Carte-Blanche.

Ordem- Caos incontrolável devido à falência e corrupção institucional das instituições publicas. Uma espécie de anarquia em que todos estão sujeitos ao que os armados quiserem. A idéia vem mão em mão com progresso.
Progresso- Estagnancia demarcada por ma distribuição de bens. A teoria de progresso deve sempre ser agrupada com publicidade ao inverso. *veja melhoramento.

Vida- Sobrevivência.

Definições Acrescentadas

À definição de MULTA acrescentar : de característica monetária, imposta sem nenhum efeito repressivo ao comportamento que pressupõe alterar.

À palavra CADEIA acrescentar : Casa e comida garantida aos custos da sociedade onde criminosos aprimoram sua profissão através de confraternização com outros presos.

À palavra POLICIA acrescentar : Profissão que providencia dois ou mais salários, dependendo da disposição do individuo. Deve ter o mínimo de conhecimento das leis que impõe e em caso de falhar a este requerimento, deve fingir o tal para fins lucrativos.

Por enquanto não tive chance de ver mais que isto, mas com tempo espero aumentar minha lista de correções para serem mandadas à publicação. Em esperança de que as palavras do livrão de referencia sejam mais fieis às realidades sociais, convido todos a adicionarem suas definições mandando um e-mail para o Houaiss. Ou pelo menos espalhando esta crônica

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Pombo-Iraque

Apesar da guerra do Iraque, Darfur, Congo e todas as outras não declaradas no mundo, no instante, existe uma que supercede o resto: Homem x Pombo. Apesar de ser uma guerra mundial, muito como a de terrorismo, ela tem suas campanhas mais fortes. Neste caso podemos chamar o nosso Rio de Janeiro de Iraque dos Pombos. Onde os ataques dos dois lados são freqüentes e um lado não tem direito de querer dominar o outro. Mas esta observação não carrega nenhuma novidade uma vez que pode ser aplicada para descrever todas as guerras do mundo.
O interessante desta guerra é que diferente da maioria das guerras, ela acontece entre duas espécies (em vez de raças ou nacionalidades). Enquanto um lado (pombos) usam um approach mais parecido com o pacifismo indiano de Ghandi, os humanos preferem uma tática mais Americana; bombardeamento diário ( com areia ). E cada vez que se espanta eles no lado esquerdo, os números crescem no lado direito. Chega a ser um yin-yang perverso que acaba levando um lado ao enfraquecimento gradual enquanto o outro fica cada vez mais forte ideologicamente.
Outra curiosidade no caso é a incapacidade de comunicação entre os dois lados. (Não estou maluco tente seguir) quando confrontados com esta questão o humano médio cairia em gargalhadas, questionando como se comunicar com eles se não falam nosso idioma? Mas alguém já tentou aprender o deles? U-r-r-r-r-r-u-u-u-r-r. não deve ser tão difícil.
Mas quem começou esta guerra? Confesso que não sei. Mas admito também que nunca vi um pombo chutando areia pra cima de alguém na praia. Parece ser contra os princípios maiores deles. Inclusive se você prestar atenção eles sempre se aproximam falando baixinho. Parece ser um animal inofensivo. Mas sugiro muito cuidado porque qualquer hora destas o instinto selvagem pode dominar a gentileza. Ai vai ser merda pra todo lado, Pode ate chamar de ataque aéreo. Ai o que vai acontecer, se houver um ataque destes? (lembremos do passado para influenciar o futuro)
Aos que me chamarem de simpatizante de pombos, estão enganados. Não acho que eles estão corretos em ficar nos instigando na areia também não. Mas nos criamos a cidade. Impomos algo neles que não encaixa à sua natureza e agora não queremos dividir os benefícios. Não sei se tem fim esta guerra mas, deve haver uma maneira melhor de lidar com o problema. Ou até uma maneira melhor de ter lidado com o problema quando começou.
(Ex: Você senta na praia e o pombo vem atrás de você. O que custa levantar a cadeira e se mudar de lugar. Talvez ele não entenderá na primeira vez e te siga. Mas tem areia pra todos com uma certa boa vontade, então tente de novo. Se ele não entender, tente de novo. Agora se ele não entender na terceira vez, pode dar um areia na cara, porque como diz o gigolo gaúcho; aqui não tem veado não. )
Afinal cada país tem que lidar com seus problemas de terror... (oops!) pombo. Mas eu aconselho a cada um fazer algo rápido senão já viu como é neh? O Big Brother vai entrar atirando.

Amir-Amor

Quando falam sobre o amor penso em um caso esquisito. Mas tenho que avisar de cara que não se trata de o amor entre um homem e uma mulher, ou entre dois homens, ou entre duas mulheres. O amor em que penso desenvolver aqui é algo mais puro e mais forte. Trata-se de um amor que não pode ser desconfiado, nem tirado. Um amor tangível incapaz de ser devolvido.

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Amir cresceu em um pequeno vilarejo nas margens de Teerã. Sua família, empobrecida com a entrada do jovem Shah, manteve e cultivou no rapaz a cultura que vinha adquirindo a anos. Antes da absolvição do velho Shah eram donos de terás e produtores de óleo de palmeiras. Após a queda foram forcados a trabalhar vendendo itens de segunda mão. O pai de Amir, rezava todos os dias que algo mudaria para sua família. Com dois filhos e cinco filhas ele não tinha mais condição de sustentar a família. Teria gasto todo centavo que economizou a vida inteira para comprar as pequenas necessidades. Mas o fim estava prestes a chegar.
Na noite em que Amir foi convidado a viajar pra Londres com desconhecidos que fugiam da ditadura, o pai não pensou duas vezes, botou o filho no banco de trás do carro e ao sussurrar algo em sua orelha fechou a porta.
Londres. Cidade de sonhos para um jovem do terceiro mundo. Se não fosse a cara de sofrimento do menino e a compaixão da mulher, Lina, Amir continuaria naquele mercado suando as poucas moedas que sustentavam a família. Mas o casal que tirou Amir de Teerã não tinha situação organizada para o rapaz. Nem pra si mesmos. Após conseguir um visto através de um conhecido no ministério de relações internacionais do Irã, mal fizeram a mala.
Com sorte conseguiram um lugar para ficar e os serviços sociais logo acertaram a situação para que Amir pudesse começar seus estudos. Ao espanto de todos aprendeu a falar Inglês em pouco tempo.
Dia e noite o rapaz estudava. Lia tudo que conseguia. No final do primeiro semestre pulou um ano inteiro ao conselho dos professores. O rapaz desenvolveu sua aptidão preternatural por economia ainda na segunda serie. E cada vez que se sentia perdido em algo, lia três livros no assunto imediatamente. Não demorou muito para ser convidado a estudar em uma faculdade Ivy league.
Um ano depois se apaixonou. Apesar de casado com um filho e trabalhando para sustentá-los continuou estudando. Cinco anos depois o mercador de Teerã saiu da faculdade com um Masters em economia internacional e um Minor em classics. Chegou em casa e com poucas palavras avisou a sua mulher que estariam voltando para Teerã dentro de um mês.
O pai, vendo o filho entrar na casa que tinha preservado apesar de perder todo o resto, vestiu um sorriso ligeiro.
– Bom dia filho.
– Bom dia pai.
Amir viveu o resto de sua vida como um professor. Ensinava de dia, de noite, até de graça. Mostrava e guiava. Não se contentava com quem não quisesse aprender. Mas tinha todo segundo para alguém que se esforçasse. Durante seus anos como professor inundou o currículo com seu conhecimento de literatura, cultura, e conhecimento geral. Em todo este tempo nunca esqueceu o que o pai tinha dito no mercado de Teerã.
Aquele dia no mercado as palavras do pai foram simples e calmas. Tinha dado ao filho um caminho a seguir e a coragem para segui-lo. Foram as mesmas palavras que Amir usou no dia em que seu primeiro filho viajou para os Estados Unidos;
– Esta viajem te levara a conhecer coisas que não existem aqui. Boas e ruins. Você descobrirá novos mundos. Mas não se esqueça que você é Iraniano. Os seus avos nasceram nesta terra. Os avos deles também. E você nunca terá um lugar próprio neste mundo se não for aqui. Estou te mandando para fora com o dever de aprender com suas experiências. E espero que a vida o traga de volta algum dia, para se reunir com sua família e ensinar os que não podem sair.
O Amor que Amir teve foi algo alem do amor entre um homem e uma mulher. Não continha as subjetividades implícitas no amor a primeira vista. Nem a complacência do amor eterno. Amir amava sua própria cultura. Sua pátria. A idéia de ser de onde ele era. Algo que não podia ser dado a ele. Não podia ser ensinado nem comprometido pela vida de fora. O amor de Amir foi puro e de dentro. Nunca se comprometeu por outros amores. Foi um amor real.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Pela...Qualquercoisa!!!

Viajando pela Europa depois de sair do Brasil e ter morado nos Estados unidos, é difícil dizer em que ano estamos. Recentemente andei lendo vários clássicos da literatura inglesa. Igualmente abordei alguns dos trabalhos brasileiros mais requeridos. Mas pelos espectros sócio-políticos que já vivenciei na minha pouca vivencia tenho certa duvida sobre em que fase da humanidade vivemos.
Muitas coisas não mudaram. Não só em nossa fabrica de letargia (Brasil), quanto no resto do mundo. Ainda se preserva o sistema de classes. Alta, media, baixa. Porem por nomes mais suaves as vezes até poéticos pois têm o objetivo de amenizar indignações. Ainda se encontra os mesmos pecados característicos nestas classes. E a observação de Orwell em seu livro de mais impacto, ‘a única classe sem a menor chance de mudar sua situação é a classe baixa’, ainda se mantêm.
Nosso novo líder internacional, que pela primeira vez na historia do mundo podemos realmente afirmar a existencia de UM líder internacional – graças aos avanços na area de comunicação e o desejo pela globalização- usa os mesmos métodos que eram comuns entre as monarquias e reis do passado. Isto escrito por vários dissidentes da historia e também pelo mesmo Orwell em sua obra supostamente fictícia.
As guerras de hoje também mudaram. Isto devido à cultivação de uma solidariedade sobre as virtudes. Mas somente nas classes baixas. Enquanto nas guerras de hoje o objetivo continua sendo a busca de novas terras e dinheiros, a razão dada pelos atos é sempre uma de moralidade. Governos se atrapalham todos para garantir que seus povos acreditem no bom que a guerra ira fazer. Penso- Por que? Sera que na apatia geral em que convivemos as razoes mais duras causariam consequencias?
Nos mundos bárbaros pré ou não católicos, uma justificativa baseada na moralidade ou virtude seria considerada um desvio de bom senso. Pois nestes tempos chamavam uma ‘espada de uma espada’ e só existia duas razoes por guerra. A primeira seria um insulto contra a honra de um rei ou sua família. A segunda o desejo de mais terras ou dinheiro. Enquanto nos dias de hoje as razoes continuam a mesma a justificativa é outra. Ex:
- Sabe João estamos em perigo de acabar o nosso estoque de picolé.
- Serio?
- Pegue sua espada e vai destruir a loja do vizinho e pegar os dele.
- O que? Não posso fazer isto. Não seria certo.
- E porque?
- Bom, diz bem aqui no tableto dos mandamentos- “Não deverás roubar”. Talvez ele divide os picoles dele conosco.
- Ah mas meu caro João nos não estamos fazendo isto para roubar os picolés dele.
- Não?
- Claro que não, nos vamos atacar-lo como castigo pois ouvi dizer que ele é um mentiroso.
- Mentiroso? É mesmo?!
- É!
- Pois então vamos lá! Pela verdade!!!...
Nosso mundo gira diariamente. Cada ano os prédios ficam mais escuros e as caras mais velhas. Mas não sei dizer com nenhuma certeza que alcancamos algum progresso. Também não posso especular que tivemos qualquer salto para uma nova fase historica. E enquanto duvido ate da data em que nos encontramos, esta começando a parecer bastante com 1984.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

O quebra-cabeças

Entreouvido com impacto pelos quartos corredores e quintais da vida;

- O menino vai ser escritor.
- Como assim Otavio? Porque diz isto.
- E pra que não dizer, ele vive contando historias.
- Não leve tão a serio.
- Quem não ta levando a serio é a Mônica.
- Ela é mãe Otavio. Você espera o que?
- Não estou falando como insulto mas chega a ser ate uma falta de respeito. Somos os avos dele. Ate pra nos não tem uma verdade. Ele daria um bom escritor. Logo agora lhe perguntei como tinha conseguido chegar em casa tão cedo. Ele me contou uma historia tão detalhada de como ele tinha ganhado permissão por seus feitos acadêmicos e por isso tinha sido liberado para cursar o que quisesse e quando quisesse que quase cai na dele. Se não tivesse só nove anos teria até acreditado...


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- Não acredito. Mônica nosso filho não sabe contar uma verdade.
- Calma amor não se aboreca.
- Não estou aborrecido. Pra ser franco estou impressionado. Ele cria mundos tão complexos e fabulosos que ate quero acreditar. Inclusive a única maneira que sei que esta mentindo e porque tudo se encaixa tão bem.
- Ele é sô um menino.
- É mas um dia será homem. E ai? O que fará da vida. Ele parece que se perde nas próprias mentiras. Vive uma mentira!
- Mas são boas não são?
- Isso não contesto....

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- Eu chamei os senhores aqui para falar sobre o comportamento de seu filho.
- As notas estão caindo doutor?
- Sim mas é pior que isso. As notas estão baixas mais eu acho que este não é o colégio para o seu filho.
- Como assim? Ele esta sendo expulso? Eduardo meu deus ele esta sendo expulso.
- Calma amor. Professor meu filho esta sendo expulso?
- Não senhor. Senhora desculpe deixe eu explicar melhor. O seu filho tem um talento nato. Ele tem uma capacidade de usar a criatividade para alterar a verdade que me assusta. Se fosse os senhores botaria ele em algum lugar que ele possa cultivar isto para o bem dele.
- Que tipo de lugar professor?
- Eu sugeriria uma escola virada para a arte. Talvez a literatura...


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Quando a caneta do menino tocou o papel pela primeira vez ele tinha nove anos. Mas ainda tinha sangue muito quente para dedicar ao tempo necessário enfrente ao papel. Não voltou a escrever ate os vinte três. Mas cada palavra, cada mundo que criava beirava à perfeição que todos nos desejaríamos vivenciar. A única coisa que nunca fez, nunca conseguiu fazer foi aperfeiçoar o mundo em que vivia.

domingo, 3 de junho de 2007

Dois Gregos

Mais de quinze anos separados pela discordância filosófica que unificou os dois, Aresto voltou à porta de seu velho amigo. Pauto teria sido seu professor por muitos anos até que o intelecto nato e a tutoria de Aresto os igualou. Por anos as conversas duraram horas e as brigas ainda mais. E a interação os fazia contentes. Quando finalmente a discussão chegou à essência do homem, as diferenças fundamentais não permitiram que a interação continuasse. Mas agora uma década e meia mais tarde, no interesse de seu pai, a filha de Pauto teria chamado Aresto para conversar com ele. O velho só assistia televisão o dia inteiro. Quando entrou no quarto Aresto nem foi cumprimentado, como se fosse esperado. Mas os sensos de Pauto estavam intactos.
- Não tenho nada a dizer a você.
- Bom dia pra você também Pauto.
- Eu não vou conversar com você.
- Mas você poderia pelo menos me olhar.
- Estou ocupado.
- Tão ocupado que não pode nem prestar atenção em minhas palavras? Você que adora palavras, e tem tanto prazer em discutir semântica?
- Não tente me enganar Aresto. Você esquece que minha voz já foi mais alta que a sua.
- Talvez. Mais a minha repercuou o mundo.
- Vai ser cheio de si assim na casa de sua mãe. “Minha repercuou” ... se Narciso não tivesse existido você seria um deus grego. Seu ingrato.
- Não, ingrato não. Se fosse ingrato não estaria aqui agora. Soube que você se trancafiou aqui neste quarto. Tirou até a cama , e só fica assistindo televisão.
- E você veio aqui pra me falar o obvio? Eu acho que não. Eu acho que você veio ver se eu tinha descoberto algo novo. Mais alguma coisa que poderia roubar de mim e usar.
- Você esta maluco! E por que assistir esta merda? Você não sabe que esta é a maior forma de controle sobre a mente possível? Que só faz afogar o individuo?
- E o que você sabe sobre o individuo? Fascista.
- Calma Pauto.
- Calma nada, não pretendo aprender filosofia de um charlatão.
- E eu não pretendo te ensinar.
- Então porque esta aqui? Pra me falar que a televisão é o maior instrumento de promulgação e controle das massas. Que a morte da sociedade clássica nasceu com ela e que ajuda a piorar o paradoxo entre o individuo e a sociedade, uma vez que o individuo precisa dela para se auto definir mas a sociedade mata o individuo. E que esta idéia nasceu com os estudos culturais e os aparelhos de mídia cultural? Bom, não precisa. Eu sei tudo isto. Inclusive fui eu que te ensinei tudo isto.
- Eu não vim pra isto. E nem concordo com isto. Não existe nenhum paradoxo nisto. É uma simbiose necessária. Nem acredito na morte da sociedade. O que vim te falar é para parar de se esconder aqui. Olha pra lá. Uma janela. Uma simples janela. Lá fora tem um mundo. Arvores. Pessoas. Crianças.
- Aresto. Você não sabe o que é minha cabeça. Não pode pretender agora me ensinar o que é viver. Eu passei minha vida inteira ignorando o mundo para analisar-lo. Eu li, escrevi, pensei, sofismei. Não sei mais o que é quebrar estes hábitos. E pior, não posso exercê-los.
- E porque não?
- Você conhece a historia de Prometeu? O mortal que roubou o fogo dos deuses e trouxe para o povo. O fogo era a luz, a luz que ele trouxe ou o esclarecimento foi a razão de todos os problemas do mundo. O conhecimento foi o que o escravizou.
- É mais ou menos isto. Mas você esta esticando um pouco.
- De qualquer maneira, o que quero dizer com isto é que o mundo me dói. Não consigo mais assistir estas coisas que me doem tanto.
- Como te doem?
- Eu sei o sofrimento que aquelas pessoas vão passar ou estão passando. Eu sei que aquela arvore não vai ficar ali. Vai ser cortada. E com isso não tenho a coragem de a olhar. Nesta televisão eu sei que por mais ridícula que seja a maioria das coisas vão terminar felizes. É uma ficção, mais pelo menos não sofro com ela.
- Mais você é um homem de ciência Pauto, como pode viver assim se enganando?
- Você nunca me entendeu. Eu não sou um homem de ciência. Você é. Eu sou um homem de necessidade. Queria sempre entender o mundo para melhorar-lo. E as teorias que você criou, as que repercutiram o mundo, eu as pensei, mas descartei. Elas não deram em nada. Por isso temos a televisão.
- Não entendi. Quero dizer entendi o insulto. Mas não o resto.
- Não te ofendi. Só quero dizer que a televisão só tem sucesso porque o mundo é imperfeito. Só por isso que corremos para nos esconder na ridicularidade da televisão.
A conversa assim foi por horas. Os dois como antigamente debatendo e tentando provar suas convicções. E depois de vários insultos e brigas o destino os forçou a encontrarem um meio termo. Ao sair Aresto tinha quebrado a televisão. E Pauto, pos o que restava da moldura da tela em volta da janela.

sábado, 19 de maio de 2007

Onde encontrar Justiça

Apos semanas de conversa com seu porteiro novo Zé, João Almeida decidiu se mudar para a favela. Largou seu jornal de sábado na mesa de seu escritório de cinqüenta metros quadrados, pegou seu troféu de golfe amador no Itanhanga, e partiu. Ao passar por suas secretarias falou – to saindo – e desceu para a garagem. Foi correndo pra casa em seu BMW Z5 e falou para sua mulher pegar algumas coisas e se despedir da cobertura na Viera Souto.
- Mulher, hoje nos vamos nos mudar.
A mulher de João, Luisa, olhou para a cara do marido.
- E tem mais, esquece suas coisas aqui.
- Você esta maluco João? Como assim se mudar?
-Maluco? Estava! Não estou mais. Me recuso a viver esta vida indigna. Eu falei com o Zé e ele vai trocar de casa conosco.
- O que??? Você esta maluco João! Ai meu deus, Zé quem? O porteiro?...
Luisa começou a chorar e se trancou dentro do banheiro, mas João pela porta continuou a falar.
- Luisa. Todo dia eu acordo cedo e dirijo meu caro ate o trabalho pensando o tempo inteiro ‘será que hoje vão roubar meu caro, ou me raptar’ depois eu chego ao escritório cheio de preocupação sobre o desempenho da empresa. Depois almoço corrido ao mesmo tempo ligando para casa para ver se vocês estão bem. Depois volto pra casa em engarrafamento extremo o tempo inteiro com minhas preocupações me matando. Tenho ulceras de tanto me preocupar. Enquanto isso o governo mete a mão no meu bolso, pior eu abro meu bolso obrigatoriamente, para financiar deus sabe o que. Chego em casa no final do dia para encontrar contas e ao colocar a chave na porta sempre me preparo para a pior das possibilidades. Não agüento mais! Eu estou cansado de ser um babaca me matando para doar dinheiro abertamente às coisas que não funcionam.
Luisa abriu a porta e disse;
- Calma João você esta falando rápido e eu estou ficando com medo.
- Não tenha medo mulher. Simplesmente faca uma mala.
A mulher de João ficou imóvel sentada na cama.
- Mas e nossas coisas? Nossos confortos.
- Ahhh...não se preocupe meu amor. Confie em mim como sempre confiou.
Luisa se levantou e começou a fazer uma mala. Enquanto isso João ligara para seu porteiro pelo interfone.
- Zé... estamos prontos...é isso mesmo... ta bom entoa vou precisar das chaves.
Com isso a família se direcionou à prudente de Moraes e pegou uma van para sua nova casa. As meninas tiveram o maior choque, e Luisa que não cozinhava a anos demorou para dominar o fogão novamente mas João estava em casa. Todo dia acordava lá pro meio dia e sem camisa andava ate a banca de jornal onde teria trocado o globo por o Dia. Em casa dava um tapa na bunda de Luisa enquanto ela preparava o café da manha e se espreguiçava todo no canto do salão que estava designado cozinha. Suas ulceras tinham desaparecido e na primeira semana ganhou o sorteio dos traficantes. O premio, uma geladeira. De tarde descia para o boteco onde ficava contando historias a tarde inteira. Seus vizinhos o achavam maluco de inventar historias de vôos internacionais e reuniões com o presidente da republica. Mas João não se importava. Não pagava mais impostos. Tinha o pacote gato completo e suas filhas com certeza entrariam para uma faculdade publica pelo sistema de cotas. A noite chegava em casa para jantar e logo em seguida assistia a novela com a família inteira.
Problemas? Claro que existiam negativos na situação como tiroteios e invasões de outras facções mais pelo menos lá encima João recebia a qualidade de segurança para que pagava. Zero por Zero pelo menos é justo. Ele não considerava por um sequer segundo voltar àquela vida dele. Lá embaixo ele se estressava, não tinha a quem pedir ajuda e pior pagava para se aborrecer. Aqui não. A vida era finalmente bela. Inclusive a única preocupação de João era como continuar evitando o Zé que queria desesperadamente sua vida de volta.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

As perolas da Experiencia

!!!!!!!!!!!temporariamente sobre revisao!!!!!!!!!

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Dona Hilda e o Jogo

Ao encontrar as portas do bingo arpoador fechadas, Hilda respirou em derrota. Apos anos de vida tinha aprendido a viver com perda. Perdeu o marido, a juventude, a vista, os ouvidos e mais recentemente o gato. Inclusive estava ficando esclerosada como teria notado. A única coisa que restava à senhora eram o Bingo e as taças de vinho com o jantar. Pelo menos ate então. O que faria agora? Oitenta e dois anos eram demais para aprender um novo esporte. Academia, ha! Nem morta. Ate que a idéia finalmente surgiu em sua cabeça- Pois o jogador é um atleta persistente- de jogar nos caca níqueis.
Como faria isso? Durante os próximos dias a vergonha de entrar num boteco foi desaparecendo. Ao olhar o boteco em frente de sua casa tentou varias vezes entrar mas sempre passava uma das senhoras da igreja e viam ela. Depois de horas de falar abobrinha decidiu pegar um táxi para a zona norte onde não seria flagrada.
Chegando no boteco o taxista perguntou se era aquele lugar mesmo, pois Dona Hilda estava vestida como qualquer senhora de um certo nível da zona sul, ate de chapéu. Entrou no boteco e viu que a maquina só aceitava notas de um real. Dona Hilda só tinha de Cem. Com demasiada educação para o local pediu troco ao ‘barman’ e lá se foi.
Teria sido uma salvação para ela não fosse a operação da PM que atingia especificamente aquele boteco. A velha olhando mal via as figuras entrando no boteco, mas conseguiu ver as armas que carregavam.
- Valha me Deus!
Saiu correndo mas tropeçou e caiu desmaiada em frente as maquinas. As moedas e notas foram se espalhando pra lá e pra cá.
Os dois detetives comandando a operação olharam pra ela e um disse pro outro;
- Que coisa triste, uma velhinha aqui dentro.
- Triste? Quem você acha que esta velhinha é ? Pois eu te digo. Vestida assim, com todo este troco nas mãos, e tentou correr... é a própria Bicheira!
Quando finalmente acordou dona Hilda estava numa cela de batalhão deitada no chão. Se levantou com nojo, e pensou – Ih! Puta merda, agora você consegui Hilda acordou numa cadeia.- Desorientada e sem idéia de como tinha chegado lá, simplesmente se ajeitou no espelhinho e sentou com as pernas cruzadas esperando alguém vir. Os detetives no outro lado do espelho de interrogação comentavam;
- Olha a frieza dela. Esta vai ser difícil de quebrar. Não fala nunca.
- Porque você diz isto?
- Viu como acordou parecendo que nem se importava com a prisão. Simplesmente ajeitou o cabelo e senta ai como uma pedra.
- Quando vamos falar com ela?
- Esperaremos um pouco, vamos deixar ela começar a suar. Deixemos que ela precise de algo assim podemos ter uma vantagem quando conversando.
Dentro da cela as horas passavam e Dona Hilda ficava imóvel, ate dormindo as vezes sentada como tinha aprendido a fazer com os anos. Os detetives por outra mão estavam apertados para ir ao banheiro, com fome e sede e não agüentavam mais. Entraram já enfuriados na sala.
- Então você acha que jogo não é um problema?
Hilda acordou abruptamente e meio bêbada do sono respondeu
- Não tem nada errado com o jogo. O único problema são aqueles burocratas idiotas fechando os Bingos.
- Ah então você defende os bingos também, Você tem parte neles?
- Meu filho eu tenho parte neles sempre que posso.
- Qual deles?
- o do Arpoador.
- Eu sabia. Sabia que você não era uma qualquer.
Dona Hilda se ofendeu. Apesar de não ter idéia nenhuma de quem ele era e onde estava ou do que estava se falando defendeu seu caráter com uma lagrima no olho;
- Eu não sou uma qualquer não. Eu tive uma vida muito ativa. Criei, lutei, e consegui ser sucedida. Tive dificuldades. Todos nos tivemos. Mas hoje sou orgulhosa de ter vencido os maiores obstáculos.
Na outra sala de novo os detetives se davam parabéns. Tinham pego uma grande chefe de quadrilha admitida. Era promoção para todos. Arranjaram as burocracias e logo a senhora estava no tribunal. Lá apos vexames, rebaixamentos e ate demissões, Dona Hilda voltara a sua casa onde apos alguns dias nem se lembrava mais do ocorrido.
Se levantou normalmente apos o almoço, botou comida para um gato que não existia mais e prosseguiu ao bingo arpoador onde não ao maior espanto, entrou e jogou a tarde inteira.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

MInhas conchas de crianca

Este sábado decidi ir à praia procurar conchas. A muito tempo não faço isso. Quando eu era criança costumava catar conchas na beira do mar e trazer-las para minha mãe. Ela brincava que se eu não parasse de catar tanto elas iriam acabar. Eu ria e continuava. Era a maneira dela controlar a quantidade de conchas que teria que carregar pra casa. Mas para mim as conchas eram inaliáveis. Ao crescer continuei procurando conchas, mas somente pro meu bolso. É esquisito. Isso eu sei, mas algo me faz pegar elas, e alem do mais é algo a fazer na praia.
Ao chegar na praia a água estava prístina. Sentei em minha cadeira um pouco e pedi um mate antes de iniciar minha caça. Olhei e olhei mas este ano não encontrei mais de uma meia dúzia antes de desistir. De volta em minha cadeira comecei a pensar na minha maior aventura.
Desde criança sempre quis ser um pescador. Aos quatorze anos assistindo um destes reality-shows, vi que na Alaska um homem pode trabalhar como pescador de caranguejo sem nenhuma experiência. Que sonho bom. Imaginava o primeiro dia abordo um barco daqueles nos mares gelados do norte do mundo. Pelo programa fui informado que os pescadores trabalhavam no barco por as vezes cento e oitenta dias. Enquanto imaginava a vida no mar podia quase sentir o gosto da água salgada nos meus lábios. Não demorei muito para me inscrever.
Depois de pouca pesquisa e dezoito anos de vida só levou uma semana para encontrar uma embarcação que me contrataria. Marquei com o capitão de nos encontrar numa dinner americana em Anchorage, Alaska. Aquela tarde o capitão do ‘Forrester’, navio em qual satisfaria minha curiosidade por uma vida cheia de mistério e aventura, me explicou como as coisas funcionariam. No final de nossa conversa ele me avisou que não sabia quanto tempo a temporada duraria aquele ano dizendo que os efeitos do aquecimento global tinham alterado as áreas de pesca e estava muito difícil encontrar caranguejos. Me lembrei de sites em que tinha lido sobre os grandes pescadores do século dezenove que perambulavam os mares por as vezes ate quatro anos. Mas não me espantei. Eu ia com os ventos naquela época.
Inclusive só fiquei espantado quando nossa temporada acabou depois de três dias. Perguntei a todos o que tinha acontecido, mas ninguém sabia. Fui descobrir depois que de acordo com as leis do sindicato dos pescadores, se não tivesse uma quantidade especifica de caranguejos por dia nos barcos a temporada acabava. Ninguém achou caranguejos. O capitão de meu barco berrava palavrões e quebrava seu gabinete enquanto eu como o resto ficava em silencio. Ao voltar pra casa infeliz e cansado decidi pesquisar os fatos.
O mundo como muda. A menos de cem anos atrás as embarcações de caranguejo ficavam meses no mar voltando cheias. Agora, três dias e já desistem. O mar estava cheio de peixe antigamente. Pode ser falta de sorte. Pode ser uma alteração real causada pelo aquecimento global. Eu não sei o que mudou pois não sou cientista. Mas algo, sim, mudou.
Hoje enquanto sento na minha areia de Ipanema, olhando o azul e verde penso só em minhas conchinhas amarelas. Fico pensando pra onde elas foram como os caranguejos que derrubaram meu sonho. Penso nos danos que as vezes fazemos sem saber. Mas no final do dia tomo meu mate e sorrio um pouco pensando , mamãe estava certa; elas acabaram.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

As aventuras de Dom Antonio

Antônio Lars era um homem altamente compulsivo. Tinha sua rotina sagrada que incluía as atividades da manha, trabalho, jantar em casa entregue sempre pelo mesmo restaurante, e cama as nove em ponto. Seu único amigo era o porteiro Severino com quem falava todo dia por dois minutos. Ao marcar sua viagem o informou imediatamente para garantir que suas plantas seriam aguadas.
- Severino amanha vou viajar para Frankfurt com escala em Sao Paulo e Madrid.-
Com a cara de retardado que só o Severino sabia fazer e sem nenhuma ideia de onde ficava Frankfurt ele disse:
-Tabom Seu Antônio. É só deixar as chave que eu dou agua as plantas-
Na manha da viagem não quebrou nenhum de seus hábitos. Antônio acordou as cinco horas em ponto (em seu apartamento impecável) e ligou a maquina espanhola de café que já continha exatamente 4 gramas de café, enquanto tomava banho. Seu banho de exatamente quarto minutos lhe deixava um minuto para se secar enquanto o café ficava pronto. Saindo do banho numa linha continua ele pegava o café, abria a porta de casa para apanhar o jornal e se sentava em sua varanda. Cruzava a perna direita sobre a esquerda e lia o jornal ate exatamente as oito. Era um homem exato.
Depois de ajeitar tudo com Severino se despediu e saiu para o aeroporto pouco depois do meio dia. Sua viagem demorou pela observação de Antônio quarenta e dois minutos. Ao chegar nem notou a bagunça no aeroporto como tinha se acostumado a fazer para preservar sua sanidade. Com toda a calma e elegância que faltava no ambiente ele em seu terno azul, cabelo colado pra tras e carregando um guarda chuva como uma bengala andou até o balcão e disse simplesmente:
-Eu gostaria de fazer o check-in por favor para o vôo das seis saindo do Rio de Janeiro para Frankfurt com escala em Sao Paulo e Madrid. -
As atendentes do balcão, como o resto do aeroporto que não tiravam seus olhos do Antônio, se entreolharam por um segundo com um sorriso.
-Desculpa senhor mas não começamos a fazer check-in para este vôo ainda. Se o senhor quiser se sentar, devemos começar às quatro. -
O esforco de ficar parado no meio daquelas pessoas mal educadas jogadas pelo chão, foi todo desperdicado pois as quatro as cinco e as cinco e meia a resposta foi a mesma. “Só um pouquinho mais, senhor.” As cinco e quarenta e cinco ele voltou outra vez ja sem a calma e a tranquilidade que sempre carregava nos olhos.
-Madame, por favor, gostaria de fazer o check-in para o vôo das seis para Frankfurt com escala em Sao Paulo e Madrid. São cinco e quarenta e seis pelo seu relógio e vou perder meu vôo das seis. -
- Ninguém te falou não? Tá tudo atrasado. Você não vai perder nada! -
A gota de suor que apareceu na testa de Antônio ao ouvir estas palavras pareceu ser a ultima gota. Ele levantou o guarda chuva e começou a gritar,
-Vocês estão de brincadeira! Não sei como vocês podem fazer isto comigo! Isto é uma desgraça! Deviam estar envergonhados de trabalhar para esta companhia-
A atendente tentou explicar que não tinha nada haver com a companhia, que era devido ao apagão aéreo, mas a voz de Antônio não parou um segundo para ouvir-la. Logo uma platéia formou-se atras dele com seus gritos de protesto. Antônio continuou.
- Eu estou aqui há horas!-
- ?????-
- Vocês são umas idiotas com seus chapeuzinhos falando mais um pouquinho, mais um pouquinho…-
- ?????-
A situação ficou feia. Antônio tinha começado um protesto serio, e as atendentes do balcão não sabiam o que fazer. Não fossem os guardas que tinham se mobilizado para garantir a segurança nos aeroportos, teria dado guerra. Quando começaram a espancar o Antônio viram que o problema era maior que pensavam, pois um perfeccionista é como uma rocha só desiste morto. Antônio perdeu a briga mas a luta que ele fez usando o seu guarda chuva como uma espada contra s guardas foi épica. Quando finalmente arrastaram ele do salão do aeroporto os outros passageiros ouviram sua voz desaparecer…
- Eu tenho que embarcar no avião das seis para Frankfurt com escala em Sao…-
Varias brigas depois o soltaram no aeroporto. Antes de ir embora foi ao balcão da companhia aérea e lhes informou que nunca mais viajaria por aquela companhia.
Pelo menos não quebrou sua rotina. Às cinco horas do dia seguinte estava de pé e continuou como se nada tivesse acontecido. Saindo de casa encontrou o Severino na porta e explicou a situação dizendo:
- Já que não vou a Frankfurt você não precisa dar agua as plantas-
E Severino respondeu
- Porque que você não pega um ônibus, chefe?-

Pedro Widmar

terça-feira, 10 de abril de 2007

" O "

Recentemente assistí um programa sobre o desenvolvimento da fala. Desde então refleti muito sobre a vida do homem selvagem. Especificamente, imagino a cena dos homens pre-históricos que decidiram abandonar suas cavernas para a vida no campo. Imagino se deram qualquer importância à formulação das primeiras palavras que substituíram os ruídos com qual se comunicavam. E apesar das línguas do mundo terem evoluído com tanta complexidade que permitem que uma palavra como “independentemente” seja formada, alguns ruídos perseveraram até hoje. E alguns desses ruídos pequenininhos quase minúsculos incitam efeitos de proporções gigantescas. Tal é o caso do “ó” que destruiu a harmonia na minha família.
O “ó”, um ruido que potencialmente serviu para conseguir a atenção de uns ou expressar alegria de outros, ainda hoje pode servir para muitas coisas. O comando “olha ali”, ou “preste atenção” etc. Mas quando minha vó o usou uma noite durante o jantar a intenção não foi nada tão pacifico.
Tudo começou num jantar onde meu avo tinha convidado seu melhor amigo Ernesto para jantar conosco. Enquanto jantava ele conversava com Ernesto sobre sua família e o orgulho que tinha de seu trabalho por eles. Mas minha vó que tinha que ser o centro das atenções sempre, nao permitiu seu display de orgulho.
- Ernesto, posso te dizer que o maior prazer que tenho nesta vida são meus filhos e netos.- Ele nos introduziu por nome como costumava fazer.
- Otávio (meu avô) você tem uma família linda. E que netos preciosos. Você realmente merece.
- Eu não contestarei isso. É verdade. Trabalhei tanto, e me dediquei tanto para eles que acredito que mereço agora ver eles todos crescerem em paz.
-Ó- soltou minha vó do outro lado da mesa. Como se tivesse escapado mas de proposito.
- O que foi Gilda?- perguntou meu avô, com sua cara ficando vermelha.
- Até parece que você deu duro. Eu que alimentei, criei, lavei roupa, cozinhei, você não fez nada. -
Este tipo de argumento da minha vó era comum apesar dela ter baba, cozinheira, empregada e todos os luxos disponíveis para uma família ela sempre menosprezava o trabalho dele. E ele sempre caia no argumento, por isso todos nos ficamos espantados quando a cara dele caiu. Mas nenhum de nos ficou tão chocado quanto minha vó, quando ele virou e disse
- Ah Gilda, vai a merda! Já que você é tao guerreira pode ficar com esta vida.-
Quando ele saiu pela porta foi a ultima vez que o vimos. Naquela época não entendi muito bem o que tinha acontecido mas pela cara do senhor Ernesto que estava congelado com uma colher de sopa suspendida no ar enfrente a sua boca, eu sabia que nao era nada bom. E hoje após muita consideração vim a conclusão que foi aquele pequeno “ó” que quebrou as costas do camelo, como dizem.
Ó. Uma palavra tao pequena com efeito tão poderoso. Quem não viveu um momento desses nao deve nem acreditar. E é difícil mesmo ver como as vezes o menor barulho ou ate um olhar pode entregar um bofetão tão grande. Penso nestas coisas esquisitas com frequência. E enquanto penso nisso tenho que duvidar se nao foi um próprio “ó” que fez o homem sair andando da caverna.

Uma por Uma

Depois de meses longe de casa finalmente voltei ao interior para uma festa de aniversario num terreno em Secretario. Logo apos as primeiras cervejas e um comentário passivo sobre a beleza do terreno, começou um debate inflamado sobre o meio ambiente. Um lado defendia a dependencia do mundo em matérias primas enquanto o outro indignado fazia exclamações sobre a necessidade de preservar ou reverter os efeitos nocivos do homem no planeta. Eu como sempre fiquei mais como espectador do que participante. O General, anfitrião da festa, ficou igualmente calado, mas quando finalmente falou foi para encerrar com estilo. Com simples palavras ele desembrulhou “Um homem que nunca plantou uma arvore, é um ser humano incompleto.”
A expressão “caiu a ficha” nunca descreveu tão bem uma situação. Todos calados, introspectivos. Eu olhando o general e o General olhando seus filhos, netos e bisnetos. De repente ele se levantou e disse firmemente “Com licença, mas agora vou deitar.” Depois de ele partir da mesa os convidados continuaram a conversar sobre vários aspectos mais eu não pude continuar na mesa. Tinha me caído um raio na cabeça. As palavras do general não poderiam estar mais certas. Se cada um plantasse uma arvore, pensei, como o mundo melhoraria! É o que nos falta para completar o circulo da corrente de nossa existência. Retribuir algo ao planeta por seus vários presentes. Eu estava determinado. Aquela semana plantaria uma arvore.
De volta na cidade me informei sobre a loja de um português que teria mudas de arvores exóticas. Confesso não entender muito destas coisas mais eu não aceitaria uma arvore qualquer. Eu queria que a minha fosse especial.
Entrando na loja meio tarde e com toda a paixão que se precisa para invadir um continente vi um senhor emaciado nos fundos de cara para a parede, sem duvida trabalhando.
- Boa noite. Quero uma arvore.-
Devo ter falado alto, pois o senhor levantou suas mãos e virou pra mim bem devagar.
- Aqui não tem dinheiro meu filho.
Eu envergonhado tentei acalmar-lo mas cada palavra que eu dizia parecia espantar-lo mais. Ele começou a chorar. Não sabia o que fazer. Decidi sair correndo.
Dias depois e vários metros de desvio para não passar em frente à loja do pobre senhor a quem eu fiz chorar, encontrei finalmente uma muda de arvore qualquer e a comprei. E agora. Onde plantaria aquela muda? Não tenho terra, nem sitio. Fiquei olhando aquela muda quase meia hora antes de resolver o problema. Eu esperaria o meio da noite, e em algum lugar, alguma praça eu plantaria minha arvore, Tereza. Eu tinha que plantar esta arvore. Desde a hora que o general tinha dito aquelas palavras sentia um vazio que nunca tinha sentido antes. E apesar disto o meio ambiente precisava de arvores para normalizar. Todos ganhavam.
Tinha me equipado todo para escalar a grade da praça Nossa Senhora da Paz. Ali plantaria minha homenagem à natureza. Quando o alarme tocou a meia noite sai de casa com minhas roupas mais usadas. Depois de quatro voltas na praça para evitar flanelinhas consegui finalmente encontrar um ponto na grade onde mendigos tinham quebrado as espadas de cima para entrar com facilidade. Facilidade relativa pois me quebrei todo para conseguir passar para dentro mais minha arvore resistiu à tentativa. Estava quase lá. Ultrapassando os patos e me enfiando numa parte bem escondida dos arbustos comecei a cavar. O cheiro das pessoas dormindo a meu lado não me faria desistir hoje. Hoje eu era um homem com uma missão. Estava quase terminando de cavar quando a luz bateu na minha cara.
- Que tu ta fazendo ai?-
Congelei.
- Ei vem aqui seu vagabundo.-
Achei o termo meio severo, mas só então notei que estava vestido como um vagabundo mesmo e tentei explicar.
- É confusão senhor. Eu só estava…-
O primeiro policial virou para o segundo e disse.
- Esse ai tem cara daquele suspeito de assalto, tem não?-
- Eu? -
- Encaixa perfeitamente –
Os dois botaram as mãos nas armas e me disseram para colocar minhas no ar. Ali eu estava, no meio de mendigos, coberto em lama, vestido como um vagabundo sendo preso. Levantei minhas mãos segurando minha arvore e segui suas instruções para os encontrar no portão. Dali fui à delegacia para explicar tudo e finalmente apos provar que não sou nem assaltante nem mendigo consegui voltar para a segurança de meu sofá.
No próximo fim de semana voltei ao sitio do general que mal me reconheceu mas garanto que nunca mais me esqueceu pois entreguei-lhe a muda nas mãos e claramente escolhendo meu lado no debate disse,
“Sabe de uma coisa, salvar o mundo é muito caro pra mim.”

Alo! Alo! (Introducao)

Este blog vai ser somente para expor ideias em forma de cronicas. Espero que voces chorem , riem , e copiem a vontade... mas sempre com meu nome em baixo... ahhahha
Se quiserem postar suas cronicas aqui me mande por email que eu coloco na parte de outros escritores, ou se quiserem debater minhas podem postar em baixo mesmo...

TODAS AS CRONICAS ESTAO AQUI DO LADO LISTADAS POR NOME, TEM MUITO MAIS DO DOM ANTONIO MAS PRECISO CORRIGI-LAS ANTES DE POSTAR....
Vlw
Pedro

 
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