terça-feira, 30 de outubro de 2007

Pombo-Iraque

Apesar da guerra do Iraque, Darfur, Congo e todas as outras não declaradas no mundo, no instante, existe uma que supercede o resto: Homem x Pombo. Apesar de ser uma guerra mundial, muito como a de terrorismo, ela tem suas campanhas mais fortes. Neste caso podemos chamar o nosso Rio de Janeiro de Iraque dos Pombos. Onde os ataques dos dois lados são freqüentes e um lado não tem direito de querer dominar o outro. Mas esta observação não carrega nenhuma novidade uma vez que pode ser aplicada para descrever todas as guerras do mundo.
O interessante desta guerra é que diferente da maioria das guerras, ela acontece entre duas espécies (em vez de raças ou nacionalidades). Enquanto um lado (pombos) usam um approach mais parecido com o pacifismo indiano de Ghandi, os humanos preferem uma tática mais Americana; bombardeamento diário ( com areia ). E cada vez que se espanta eles no lado esquerdo, os números crescem no lado direito. Chega a ser um yin-yang perverso que acaba levando um lado ao enfraquecimento gradual enquanto o outro fica cada vez mais forte ideologicamente.
Outra curiosidade no caso é a incapacidade de comunicação entre os dois lados. (Não estou maluco tente seguir) quando confrontados com esta questão o humano médio cairia em gargalhadas, questionando como se comunicar com eles se não falam nosso idioma? Mas alguém já tentou aprender o deles? U-r-r-r-r-r-u-u-u-r-r. não deve ser tão difícil.
Mas quem começou esta guerra? Confesso que não sei. Mas admito também que nunca vi um pombo chutando areia pra cima de alguém na praia. Parece ser contra os princípios maiores deles. Inclusive se você prestar atenção eles sempre se aproximam falando baixinho. Parece ser um animal inofensivo. Mas sugiro muito cuidado porque qualquer hora destas o instinto selvagem pode dominar a gentileza. Ai vai ser merda pra todo lado, Pode ate chamar de ataque aéreo. Ai o que vai acontecer, se houver um ataque destes? (lembremos do passado para influenciar o futuro)
Aos que me chamarem de simpatizante de pombos, estão enganados. Não acho que eles estão corretos em ficar nos instigando na areia também não. Mas nos criamos a cidade. Impomos algo neles que não encaixa à sua natureza e agora não queremos dividir os benefícios. Não sei se tem fim esta guerra mas, deve haver uma maneira melhor de lidar com o problema. Ou até uma maneira melhor de ter lidado com o problema quando começou.
(Ex: Você senta na praia e o pombo vem atrás de você. O que custa levantar a cadeira e se mudar de lugar. Talvez ele não entenderá na primeira vez e te siga. Mas tem areia pra todos com uma certa boa vontade, então tente de novo. Se ele não entender, tente de novo. Agora se ele não entender na terceira vez, pode dar um areia na cara, porque como diz o gigolo gaúcho; aqui não tem veado não. )
Afinal cada país tem que lidar com seus problemas de terror... (oops!) pombo. Mas eu aconselho a cada um fazer algo rápido senão já viu como é neh? O Big Brother vai entrar atirando.

Amir-Amor

Quando falam sobre o amor penso em um caso esquisito. Mas tenho que avisar de cara que não se trata de o amor entre um homem e uma mulher, ou entre dois homens, ou entre duas mulheres. O amor em que penso desenvolver aqui é algo mais puro e mais forte. Trata-se de um amor que não pode ser desconfiado, nem tirado. Um amor tangível incapaz de ser devolvido.

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Amir cresceu em um pequeno vilarejo nas margens de Teerã. Sua família, empobrecida com a entrada do jovem Shah, manteve e cultivou no rapaz a cultura que vinha adquirindo a anos. Antes da absolvição do velho Shah eram donos de terás e produtores de óleo de palmeiras. Após a queda foram forcados a trabalhar vendendo itens de segunda mão. O pai de Amir, rezava todos os dias que algo mudaria para sua família. Com dois filhos e cinco filhas ele não tinha mais condição de sustentar a família. Teria gasto todo centavo que economizou a vida inteira para comprar as pequenas necessidades. Mas o fim estava prestes a chegar.
Na noite em que Amir foi convidado a viajar pra Londres com desconhecidos que fugiam da ditadura, o pai não pensou duas vezes, botou o filho no banco de trás do carro e ao sussurrar algo em sua orelha fechou a porta.
Londres. Cidade de sonhos para um jovem do terceiro mundo. Se não fosse a cara de sofrimento do menino e a compaixão da mulher, Lina, Amir continuaria naquele mercado suando as poucas moedas que sustentavam a família. Mas o casal que tirou Amir de Teerã não tinha situação organizada para o rapaz. Nem pra si mesmos. Após conseguir um visto através de um conhecido no ministério de relações internacionais do Irã, mal fizeram a mala.
Com sorte conseguiram um lugar para ficar e os serviços sociais logo acertaram a situação para que Amir pudesse começar seus estudos. Ao espanto de todos aprendeu a falar Inglês em pouco tempo.
Dia e noite o rapaz estudava. Lia tudo que conseguia. No final do primeiro semestre pulou um ano inteiro ao conselho dos professores. O rapaz desenvolveu sua aptidão preternatural por economia ainda na segunda serie. E cada vez que se sentia perdido em algo, lia três livros no assunto imediatamente. Não demorou muito para ser convidado a estudar em uma faculdade Ivy league.
Um ano depois se apaixonou. Apesar de casado com um filho e trabalhando para sustentá-los continuou estudando. Cinco anos depois o mercador de Teerã saiu da faculdade com um Masters em economia internacional e um Minor em classics. Chegou em casa e com poucas palavras avisou a sua mulher que estariam voltando para Teerã dentro de um mês.
O pai, vendo o filho entrar na casa que tinha preservado apesar de perder todo o resto, vestiu um sorriso ligeiro.
– Bom dia filho.
– Bom dia pai.
Amir viveu o resto de sua vida como um professor. Ensinava de dia, de noite, até de graça. Mostrava e guiava. Não se contentava com quem não quisesse aprender. Mas tinha todo segundo para alguém que se esforçasse. Durante seus anos como professor inundou o currículo com seu conhecimento de literatura, cultura, e conhecimento geral. Em todo este tempo nunca esqueceu o que o pai tinha dito no mercado de Teerã.
Aquele dia no mercado as palavras do pai foram simples e calmas. Tinha dado ao filho um caminho a seguir e a coragem para segui-lo. Foram as mesmas palavras que Amir usou no dia em que seu primeiro filho viajou para os Estados Unidos;
– Esta viajem te levara a conhecer coisas que não existem aqui. Boas e ruins. Você descobrirá novos mundos. Mas não se esqueça que você é Iraniano. Os seus avos nasceram nesta terra. Os avos deles também. E você nunca terá um lugar próprio neste mundo se não for aqui. Estou te mandando para fora com o dever de aprender com suas experiências. E espero que a vida o traga de volta algum dia, para se reunir com sua família e ensinar os que não podem sair.
O Amor que Amir teve foi algo alem do amor entre um homem e uma mulher. Não continha as subjetividades implícitas no amor a primeira vista. Nem a complacência do amor eterno. Amir amava sua própria cultura. Sua pátria. A idéia de ser de onde ele era. Algo que não podia ser dado a ele. Não podia ser ensinado nem comprometido pela vida de fora. O amor de Amir foi puro e de dentro. Nunca se comprometeu por outros amores. Foi um amor real.

 
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