domingo, 17 de agosto de 2008

Geórgia e os fantasmas


        No meio das recentes confusões que ocorrem no Cáucaso, e o potencial de futuros imbróglios no leste europeu, fui obrigado a retomar a crônica semanal. Abafo? Talvez.
Todos sabemos que houve alguma coisa na Geórgia recentemente. Para os que crêem que não passou de uma escaramuça, receio informar que constou de uma Guerra. Breve, mas guerra.
             Primeiramente, fiquei pasmo com a decisão do Presidente da Geórgia. Um pais do tamanho de um caroço de azeitona que decide atacar uma área sob proteção de uma das maiores potencias militares do mundo, se não for heroísmo, é, simplesmente, idiotice- talvez os dois. Mas não consegui passar deste ponto sem analisar melhor. Realmente, nada na carreira de Mikheil Saakashvili o retrata como um homem que atenta ao heroísmo, muito menos à lastimável situação de idiota. Mas então porque esta jogada?
             Certos jornalistas americanos estão convencidos que Mikheil não imaginava tamanha reação. Minha premonição, porem, é outra. Somente com garantias de reforços militares, ou de apoio da comunidade internacional, que um país com um orçamento militar menor que aquele que o estado do Rio destina à manutenção de pingüins, se aventuraria em tamanha enroscada. Mas ninguém apoiou. A comunidade sentou nas mãos e assistiu a Geórgia ser bombardeada. Logicamente só podemos deduzir que houve um apoio falso. Talvez, até intencionado a outros propósitos. Um grande escritor me ensinou a considerar sempre no jornalismo a questão chave: Qui Prodest?
            Então, quem se beneficiaria? Seria os Estados Unidos, que a 18 meses tentam instalar um escudo de defesa em solo polonês. As negociações sofreram por meses devido à indisponibilidade dos “Estates” de acomodar aos pedidos dos poloneses por armamento americano. O negocio acaba de ser fechado, porém, deixando os poloneses com uma, isso mesmo, somente uma arma de defesa. Claro, não é nada pequeno, mas trata-se de menos da metade da quantidade de armas que os poloneses requeriam. Um ataque russo à Geórgia poderia botar os poloneses aflitos, sendo que ambos são ex-países satélites da Rússia. Talvez aflitos o suficiente para ceder uma base de defesa americana em solo nacional, assim se aliando contra uma futura invasão russa. Mas, será que instalar um escudo na região é motivo suficiente para instigar uma guerra? É, talvez não.
             Mas então quem mais se beneficiaria com esta guerra? Talvez foram os ucranianos, que vendo o eventual retorno da Republica Autônoma de Criméia ao controle russo, decidiram atrair o foco do mundo para o Cáucaso? Claro, poderia ser dito que Criméia não fica no Cáucaso. Mas estrategicamente Criméia é um grande beneficio aos ucranianos. Recentemente, os russos deixaram bem claro ao mundo, quando cortaram a energia ucraniana, que petróleo na Ucrânia é um mercado russo. A Criméia por ser um porto autônomo, pode receber o petróleo Britânico que passa pela Geórgia, e a Turquia, e consequentemente repassar aos ucranianos sem deixar os russos alterados. Portanto, a conquista da republica autônoma de Crimeia, onde o idioma oficial é russo e 70% dos cidadãos são de fato russos, seria interessante para a Rússia. Mas os russos não poderiam simplesmente tomar controle da Crimeia sem alguma resposta do mundo. Só, claro se ninguém soubesse o que estava acontecendo. A África serve de exemplo que o mundo fecha os olhos se não houver interesse internacional. Por isso pergunto: Será que atrair atenção mundial ao Cáucaso e aos ex-satélites da Rússia beneficiaria os ucranianos? E será que este interesse seria suficiente para instigar guerra? Talvez não.
             Sou acusado constantemente de adorar uma boa conspiração. É verdade. Admito. Mas com boa razão, pois acontece que a maioria das conspirações que ouvimos e descartamos acabam anos depois, sendo confirmadas como fato. E o que me parece verdade é que alguém assegurou o presidente da Geórgia que eles teriam apoio militar caso tentassem tomar a Ossétia do Sul. Mesmo assim, não pretendo saber definitivamente o que aconteceu na Geórgia, e muito menos saber como aconteceu.
             Existe a possibilidade do presidente da Geórgia ter realmente subestimado tanto a reação da Rússia? Existe, concedo. Somente não me parece provável. As possibilidades são infinitas. Muitas nações se beneficiaram, e ainda se beneficiarão com a Guerra da Geórgia, menos, claro, a Geórgia.

domingo, 3 de agosto de 2008

Jogos do Poder


Graças à locadora “SuperVideo” de Ipanema, tive o prazer divino, esta semana, de assistir Jogos do Poder (Charlie Wilson’s War no original). O filme se baseia numa historia verídica sobre um parlamentar (Charlie Wilson) dos EUA que, com o apoio do governo, arma os afegãos durante a guerra do Afeganistão com a Rússia, na década de 80. Uma vez digerida e adaptada para a grande tela pelas mãos capazes do roteirista Aaron Sorkin, a historia vira um ensaio clássico do cinema contemporâneo. O filme é repleto de política internacional, ao mesmo tempo mantendo um tom sarcástico e humorístico, através do personagem Gust Avrakotos, interpretado por Philip Seymour Hoffman.
Hoffman, que atualmente é considerado entre os maiores nomes de Hollywood, comanda o elenco apesar de ser um mero coadjuvante. O filme conta também com a presença de Tom Hanks (Charlie Wilson) e Julia Roberts. Ambos em representações, infelizmente, esquecíveis. Mas o apelo maior do filme não se resume aos atores. A intriga do roteiro é justamente o desvendar dos bastidores de uma guerra, de inicio ao fim.
Fora a atuação aplaudível de Hoffman, e o roteiro do celebre Sorkin, o filme conta com mais um aspecto mirabolante: a direção. Com pinceladas de mestre, o diretor, Mike Nichols, mistura cortes rápidos com seqüências demoradas para instigar ansiedade e emoção no espectador. Bem no estilo de Nichols, o filme cavalga num passo consistentemente sinuoso e elegante, deixando qualquer um atento ao desenvolvimento.
Jogos de poder, pode ser considerado uma mistura entre Ishtar e Syriana. Em apenas 92 minutos de duração, o longa-metragem “nem-tão-longo” não deixa de ser uma noite de cinema completa.

 
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