terça-feira, 31 de março de 2009

Contrassenso

Jean-Jaques Rousseau acreditava que todo o mal do mundo nascia da desigualdade. Enquanto defendia que a desigualdade física era incorrigível , acreditava que era nossa obrigação diminuir a desigualdade política/moral. O governo parece desconhecer essas filosofias que há tempo revolucionaram a forma do homem pensar.
Foi anunciado ontem um corte de dez por cento do custeio e investimento em educação. O impacto: Quem sabe. Já faltam professores, alunos passam de ano automaticamente, e poucos são alfabetizados. Mais adiante os que quiserem um diploma universitário precisam chegar armados na fila, porque vaga meus caros... são outros quinhentos.
Enquanto o sistema carece de vagas universitárias para os milhares que saem do segundo grau a cada ano, nossos governantes ousam ostentar a existência de um sistema de educação público. E apesar dessa violação grossa da Razão(também nascida da revolução) vemos a desigualdade infiltrada no resto do sistema. A nota média nas escolas públicas sendo abaixo de 6, os que podem são basicamente obrigados a gastarem fortunas com educação particular. Assim sendo, a sociedade se encontra segregada entre aqueles com instrução, e portanto perspectiva de empregos dignos, e aqueles que passarão as vidas infusos na ignorância, sujeitos ao trabalho escravo (485 reais é escravidão!). Pelo menos existe coerência: Não tem vaga na faculdade mas eles não têm instrução para passar na prova mesmo...
Há 250 anos Rousseau escreveu sobre a busca pela liberdade. Acreditava que essa só podia ser simulada, pois a sociedade, por sua essência, a cerceia. Mesmo assim arguiu que somente reduzindo as desigualdades chegaríamos a este estado de “menos mal”. Como todo produto importado, talvez as idéias chegarão aqui algum dia, claro com uma taxa de importação...

domingo, 22 de março de 2009


Coisas da Vida

Sexta em sua celebre coluna Coisas da Política, Mauro Santayanna fala da  terceirização de serviços pelo governo, afirmando que nem a ética nem a lógica a defendem. Não poderia concordar mais. Acontece que no capitalismo muitas vezes a lógica e a ética são dribladas. Penso nessas coisas enquanto espero meu ônibus cuja passagem diária(ida e volta) equivale apouco mais de um por cento do salário mínimo.


Obama? Meu obama?
Tenho torcido desde o inicio pela quebra com os “velhos hábitos de estado” que Obama prometeu. Por isso fiquei tão chocado com o que descobri recentemente. Em fevereiro deste ano no Ninth Circuit Court of Appeals dos EUA (tribunal de recursos) o governo Obama decidiu manter a posição da administração Bush sobre Rendição Extraordinária. Significa que sobre a alegação de prejudicar segredos do estado o governo bloqueará a abertura de qualquer julgamento ligado a pessoas raptadas pelo governo sob suspeita de envolvimento com terrorismo. Assim sendo, os que passaram anos expostos a torturas e depois foram inocentados por falta de provas, não poderão conseguir justiça nas cortes, nem limpar seus nomes. Meu Barrack? Não pode ser...


Semana azul
Faz duas semanas que dedico todo meu tempo livre(todos os 10 minutos diários) a Snorkeling. Descobri que existe uma quantidade extraordinária de vida marinha nas nossas praias urbanas, inclusive este amigo com quem tenho nadado frequentemente esta semana e que batizei de João. A foto não é minha. Logo mais espero tirar algumas para compartilhar.



Land of the Free, but bring a credit card...

O sistema de saúde arcaicamente liberal dos Estados Unidos voltou ao palco central. Desta vez o foco não é propriamente os cidadãos do país mas a economia. Acontece que há anos as grandes empresas temendo preços altos dos seguro de saúde para seus empregados têm migrado para o Canadá. Diante da crise Governantes de vários estados temem que os fabricantes abandonarão o país mesmo com incentivos e socorro federal do pacote de estímulos.

Porém...
Como foi defendido por um consagrado jornalista americano/brasileiro semana passada num bar carioca independente do ultrapassado sistema americano custar caro aos pacientes, o resultado é mais ou menos igual ao do moderníssimo sistema universal brasileiro. A diferença é que lá pacientes não são atendidos por não terem dinheiro, e aqui por inúmeras outras razões ... vergonha aos dois.



Uma boa semana para todos!!!!

domingo, 15 de março de 2009

Novidade, em termos...

Barack Obama assinou uma ordem executiva que permite a pesquisa de células tronco embrionárias e que o departamento de Health and Human Services patrocine tais estudos. A questão divide o povo. Um lado (41%) usa o argumento conservador, o outro ( 52%) defende as pesquisas na esperança de novas curas. Os méritos não me importam. De qualquer forma é um passo monumental para a ciência nos EUA.
Pelo menos foi o que pensei até descobrir que o decreto de George W. Bush contra o uso das células em 2001, pouco afetou a legislação estadual no país. Isso mesmo. Na realidade os estados de California, Connecticut, Illinois, Maryland, Massachusetts, New Jersey, New York e Wisconsin não só passaram legislações na época legalizando as pesquisas, como de fato produziram centenas de linhagens de células tronco embrionárias nos últimos anos.
Mas como que é possível? podem indagar.
A desobediência foi fruta da forma com que Bush proibiu o uso. Na época deu a diretiva em forma de Executive Order(equivalente a Decreto no Brasil), que não tem base explicita em lei constitucional. A ferramenta executiva tem sido debatida durante anos. Bush, que desgastou o artifício durante os dois mandatos, arriscava perda insuportável caso desafiasse a ousadia dos estados nas cortes. Podia chegar ao Supremo e limitar seu escopo de ação. Sendo assim teve que engolir.
Mas voltando ao miolo do pão, porque decretar (sem base legal) algo que já estava legalizado em tantos estados? O sal do molho (gostou?) é que até então fundos federais não poderiam ser usados para as pesquisas. O ato de Obama abriu o caminho para pesquisas de célula tronco com um investimento real. Agora temos que aguardar.

 
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