segunda-feira, 15 de junho de 2009

Engenharia de Sintaxe e o Irã


Tem sido vergonhosa a 'engenharia de sintaxe' com que a Grande Imprensa escolheu noticiar os recentes desenvolvimentos da eleição do Iran. “Líder pede investigação”, “supremo líder ordena inquérito”, etc. foram só alguns dos atentados à ética jornalística. Mas a divergência entre os verbos escolhidos e o conteúdo da matéria fica claro para qualquer um, que o procure.

Em momento algum destas matérias (NYT, Folha, Globo, Reuters, Telegraph, Corriere...) se encontra qualquer frase afirmando que o aiatolá se levantou e “demandou” que a eleição fosse investigada. Apesar de ser este o entender que se passa com tais manchetes. O aiatolá não pediu, ordenou, ou demandou nada. Sendo supremo líder do Irã ele simplesmente acolheu um pedido do candidato de oposição para investigar as eleições, e de forma bastante justa, apesar das acusações de tirania feitas contra ele, sanciounou-o. Qualquer manchete que faça menção a ação tomada por sua parte é uma tentativa de confundir o leitor. Agora o pedido se encontra nas mãos de um conselho que afirmou que concluirá a investigação em 10 dias, ou seja, uma fração do tempo que leva para abrir uma CPI por estas partes.

Gostaria de especificar, expor, e explicitar (ficou claro?) que não sou a favor nem contra a administração Ahmadinejad. Mesmo assim como acho que esta questão em nada importa, coloco-a conscientemente no pé desta crônica. Não posso avaliar o presidente eleito por critérios morais, até por não viver no Irã e não conhecer a realidade daquele povo. Sei o que leio nos jornais. Nesta base ele seria uma espécie de Diabo-encarnado. Parece-me pouco provável que o presidente não tenha feito nada de bom ou de acordo com a vontade do povo em 4 anos. Muitos detestam o Ahmadinejad, o Chaves, e tantos outros líderes sem sequer saber o que estes realmente fazem. Devemos lembrar que só porque deu no Jornal, não quer dizer que é a absoluta verdade resistente a interesses corporativos. Por isso, como jornalista, tenho que aceitar que Ahmadinejad foi eleito por voto popular e direto, pelo menos por enquanto.

sábado, 13 de junho de 2009

Intrigas do Estado

O nível de paixão demonstrado por Russel Crowe em suas considerações à blacktree.tv (veja abaixo) sobre os vícios praticados na grande imprensa e o atual estado da midia, transcender ao telão no seu novo personagem. Em Intrigas do Estado (State of Play no original) Crowe interpreta o repórter Cal Mcaffrey, que através uma coincidência de eventos encontra uma relação entre dois episódios aparentemente distintos, assim desvendado uma conspiração de tamanhas proporções. Viu não dei nada. Apesar do trama se basear numa coincidência como premissa, o filme é relativamente seco no uso das rotineiras absurdidades do cinema hollywoodiano. Em lugar do slogan tão previsível que colocaram no filme- Find the Truth - sugiro outro: conspiração, carnuda e suculenta.

Como muitos ao meu redor, fiquei em estado permanente de arrepío após os primeiros vinte minutos do filme. Na base de um roteiro sólido, o que duvidei nas primeiras seqüências, o diretor Kevin Macdonald construiu um longa altamente cativante, mesmo que algumas das atuações foram fracas e por vez ou outra inacreditáveis.

Mesmo assim tenho que admitir que o filme revelou uma grande surpresa. Enquanto Helen Mirin, que em nada parecia com uma editora de jornal impresso, atentou contra o pudor numa interpretação merecedora do Razzie, e Rachel Macadams solidificou sua marca mais firme como atriz, a inconstância, Ben Affleck se redimiu totalmente como ator de grande calibre. Além de uma participação secundaria sua interpretação 'contida, mas precisa', lembraram a atuação spetacular com que o astro primeiro veio aos holofotes em Good Will Hunting. Talvez um sinal que Affleck está de volta ao nível de Hollywoodland (2006). O ator teve êxito até em seu uso do sotaque virginiano (difícil de reconhecer e mais ainda de interpretar). Mas sem duvida o premio vai a Crowe, que novamente se transformou integralmente incoporando traços carateristicos da essência do jornalista em sua interpretação.

Contudo, como filme de jornalismo Intrigas de Estado está à altura de outros como Todos os Homens do Presidente, Boa Noite e Boa Sorte, e O Informante, apesar de ser ficticio.

 
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