Engenharia de Sintaxe e o Irã
Tem sido vergonhosa a 'engenharia de sintaxe' com que a Grande Imprensa escolheu noticiar os recentes desenvolvimentos da eleição do Iran. “Líder pede investigação”, “supremo líder ordena inquérito”, etc. foram só alguns dos atentados à ética jornalística. Mas a divergência entre os verbos escolhidos e o conteúdo da matéria fica claro para qualquer um, que o procure.
Em momento algum destas matérias (NYT, Folha, Globo, Reuters, Telegraph, Corriere...) se encontra qualquer frase afirmando que o aiatolá se levantou e “demandou” que a eleição fosse investigada. Apesar de ser este o entender que se passa com tais manchetes. O aiatolá não pediu, ordenou, ou demandou nada. Sendo supremo líder do Irã ele simplesmente acolheu um pedido do candidato de oposição para investigar as eleições, e de forma bastante justa, apesar das acusações de tirania feitas contra ele, sanciounou-o. Qualquer manchete que faça menção a ação tomada por sua parte é uma tentativa de confundir o leitor. Agora o pedido se encontra nas mãos de um conselho que afirmou que concluirá a investigação em 10 dias, ou seja, uma fração do tempo que leva para abrir uma CPI por estas partes.
Gostaria de especificar, expor, e explicitar (ficou claro?) que não sou a favor nem contra a administração Ahmadinejad. Mesmo assim como acho que esta questão em nada importa, coloco-a conscientemente no pé desta crônica. Não posso avaliar o presidente eleito por critérios morais, até por não viver no Irã e não conhecer a realidade daquele povo. Sei o que leio nos jornais. Nesta base ele seria uma espécie de Diabo-encarnado. Parece-me pouco provável que o presidente não tenha feito nada de bom ou de acordo com a vontade do povo em 4 anos. Muitos detestam o Ahmadinejad, o Chaves, e tantos outros líderes sem sequer saber o que estes realmente fazem. Devemos lembrar que só porque deu no Jornal, não quer dizer que é a absoluta verdade resistente a interesses corporativos. Por isso, como jornalista, tenho que aceitar que Ahmadinejad foi eleito por voto popular e direto, pelo menos por enquanto.