domingo, 19 de outubro de 2008

Brasistencialismo

     Esta semana o Jornal O Globo subiu na minha conceituação, por terem feito uma entrevista com o teórico Parag Khanna, autor do livro O Segundo Mundo. O livro dialoga abertamente sobre a importância dos paises de segundo mundo, ou emergentes, na atualidade. Khanna aplaude também o sistema sócio-democratico da União Européia, e o fim do unilateralismo estadunidense. É nesse sentido que acredito que deveríamos caminhar.
     O Brasil, apesar de estar muito longe da infra-estrutura, ou capacidade administrativa da Europa, deveria se medir contra o Mundo Velho, na espera de aprender com o que já funciona. Foi assim que me preparei para escrever estas linhas.
     O problema, ao meu ver, é que atualmente tentamos agir como um pais desenvolvido, enquanto nas ruas nem nossas policias conseguem concordar... Para falar a verdade a existência de duas instituições para fazerem o que é essencialmente o mesmo trabalho, me parece coisa de terceiro mundo. Enquanto isso, no âmbito social continuamos insistindo na falta de reforma.
     Os programas sócias não encontram nenhum apoio do outro lado. São balas perdidas num pais de poucos escudos. Parece que tudo é feito a base de atos divinos de ‘Isto, consertará o Brasil’. O que o governo parece não ter observado é que consertar o Brasil requer uma estratégia bastante ampla. Aqui encontramos o único sistema de assistencialismo do mundo genial e capaz o suficiente para resolver as coisas de noite pra dia: o Brasistencialismo. Funciona mais ou menos assim.
   - Vamos doar ao pobre condições, as custas daqueles que têm dinheiro para contribuir, para que ele possa comer e se sustentar.
   - Beleza! E qual é o próximo passo?
   - Como assim próximo passo?   - Como assim ‘como assim’? O próximo passo, o plano.
   - Plano? Mas já resolvemos, agora não tem mais pobreza. Estávamos até pensando em dar viagens à Europa ano que vem para acabar com a crise dos feriados...
   -??!?!
     Lógica incontestável, mas se a idéia é um sistema de doação onde dez por cento do país sustente noventa por cento, então já vou mudando de lado. O que precisamos é de uma estratégia que tenha como objetivo o desenvolvimento sustentável. Não se pode financiar a pobreza, ao custo dos que tem dinheiro, se não a mensagem que se passa é: Relaxa, nós pagamos a conta. (É meu bordão de campanha, não roubem). Mas qual será então a questão fundamental para mudar este quadro? Concordo com os muitos que dizem que é a educação. Afinal, Como que se pretende estimular crescimento dentro de uma nação cujo nota media de educação é um 5. Não rola. Pode até ter emprego, mas quem vai trabalhar? Com media cinco, não podemos nem ter certeza que o cara vai encontrar o prédio onde trabalha.
     Claro, para que a melhora da educação tenha qualquer efeito, é necessário também criar empregos. Caso contrario, será mais uma bala perdida, e em vez de ouvir – Perdeu! ao andar pelas ruas, ouvirá- Vossa mercê extraviou-se! Sem grande diferença na finalidade.
     O brasileiro mediano (não médio- existe uma diferença como apontou João Ubaldo Ribeiro a algumas semanas) nasce na pobreza e se depara com escolas irrisórias, hospitais que não funcionam, e uma cidade abandonada. Quando acaba em um morro traficando ou assaltando no meio da rua, a sociedade pergunta porque? Ok podia ter escolhido outra vida mas como quando as próprias faculdades “publicas”, e digo essa palavra com o maior quantidade de ironia possível, não abrigam mais que uma fração dos alunos que graduam do segundo grau todo ano. Isso sem contar os que não chegam lá. Inclusive me parece um erro de nomenclatura. Pois se é publica tem que ter espaço para todos. Lima Barreto escreveu sobre a falta de vagas na Folha de São Paulo há cem anos. Ordem e Progresso? Vai, conta outra...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Cresvaldo e a Máquina

     Tenho que admitir minha alegria ao ver “meu” candidato no segundo turno. Mas o dia não foi tão cheio de alegria. Tantos incidentes de caráter ignóbil ocorreram que não sei exatamente como sinto. Refiro-me à categoria vereador.    

     Ao ver a lista dos vereadores eleitos meu queixo caiu. Falo de um dos vários “inhos” deste estado. Ou melhor, “inhas”. Como eleitores podem votar em uma candidata que está na cadeia, é alem da minha capacidade de compreensão. Mas essa possibilidade já diz muito sobre nossa cidade maravilhosa, e talvez sobre a própria instituição do voto.
     Defendo há tempo um procedimento, digamos, diferente. Já que o Voto Obrigatório não vai sair da pauta, devido às vantagens ocultas para os que pretendem nos reger infinitamente, sugiro então o Voto Obrigatório Qualificado. O que será? Vamos ver na pratica.
     Tomamos como exemplo Cresvaldo, um analfabeto, que mora numa área sujeita a grandes influências eleitoreiras. “Sugestões” por armados, promessas dos pretendentes, uso da máquina pública...Nada mais normal.     
     Neste sistema, Cresvaldo (nome perfeito para cidadão hipotético) acordaria normalmente no dia de votar. Como qualquer outro dia de eleição ele se dirigiria até a zona eleitoral, mas ao chegar no local se depararia com uma fila nova, antes da urna.
     Cresvaldo olha a sinalização mas não consegue decifrar os signos. Porém, como bom brasileiro, não é nenhum estranho a filas. Não pensa duas vezes. Finalmente ele chega à frente da fila, repetindo seus números “sugeridos”, onde o pedem para fazer o Teste do Voto. Ele hesita – Teste do Voto? Cresvaldo congela, pensa em sair correndo, mas é convencido a ficar. Chegando à tela do computador ele não encontra onde inserir seus numerozinhos memorizados. Aperta varias teclas e houve barulhos frenéticos do computador. Um atendente se direciona ao nosso cobaia, e lhe informa que sem saber ler Cresvaldo não poderá participar do resto do processo. Ele é dispensado. (Muito a seu prazer).     
     Caso consiga ler, Cresvaldo participará da prova. Trata-se de uma prova eliminatória. Por exemplo, se o cidadão não contribui com imposto de renda, sua prova termina. Q.I. insuficiente, game over. Caso contrario procedemos a uma prova básica sobre política. O senhor(a) sabe quem é o atual Prefeito? Governador? Senadores? Presidente? Por quanto tempo estes ficam em cargo? Quais são seus deveres e responsabilidades? São apenas alguns exemplos.
     Pode parecer radical para alguns, mas a estes digo que radical é o voto inconsciente. Afinal, apesar da nossa “inha”, foi eleito outro vereador que responde a 14 anotações penais. Culpa de quem?     
    Um povo sem a capacidade de se informar sobre questões de estado é altamente influenciável. E estes não podem ser encarregados de decidir nosso futuro. 


*** Em duas semanas os leitores deste blog poderão contar com uma matéria investigativa sobre fanatismo religioso. De autoria própria, claro... Aguardem

 
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