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sábado, 13 de junho de 2009

Intrigas do Estado

O nível de paixão demonstrado por Russel Crowe em suas considerações à blacktree.tv (veja abaixo) sobre os vícios praticados na grande imprensa e o atual estado da midia, transcender ao telão no seu novo personagem. Em Intrigas do Estado (State of Play no original) Crowe interpreta o repórter Cal Mcaffrey, que através uma coincidência de eventos encontra uma relação entre dois episódios aparentemente distintos, assim desvendado uma conspiração de tamanhas proporções. Viu não dei nada. Apesar do trama se basear numa coincidência como premissa, o filme é relativamente seco no uso das rotineiras absurdidades do cinema hollywoodiano. Em lugar do slogan tão previsível que colocaram no filme- Find the Truth - sugiro outro: conspiração, carnuda e suculenta.

Como muitos ao meu redor, fiquei em estado permanente de arrepío após os primeiros vinte minutos do filme. Na base de um roteiro sólido, o que duvidei nas primeiras seqüências, o diretor Kevin Macdonald construiu um longa altamente cativante, mesmo que algumas das atuações foram fracas e por vez ou outra inacreditáveis.

Mesmo assim tenho que admitir que o filme revelou uma grande surpresa. Enquanto Helen Mirin, que em nada parecia com uma editora de jornal impresso, atentou contra o pudor numa interpretação merecedora do Razzie, e Rachel Macadams solidificou sua marca mais firme como atriz, a inconstância, Ben Affleck se redimiu totalmente como ator de grande calibre. Além de uma participação secundaria sua interpretação 'contida, mas precisa', lembraram a atuação spetacular com que o astro primeiro veio aos holofotes em Good Will Hunting. Talvez um sinal que Affleck está de volta ao nível de Hollywoodland (2006). O ator teve êxito até em seu uso do sotaque virginiano (difícil de reconhecer e mais ainda de interpretar). Mas sem duvida o premio vai a Crowe, que novamente se transformou integralmente incoporando traços carateristicos da essência do jornalista em sua interpretação.

Contudo, como filme de jornalismo Intrigas de Estado está à altura de outros como Todos os Homens do Presidente, Boa Noite e Boa Sorte, e O Informante, apesar de ser ficticio.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Cerco Aperta

            Os prisioneiros de Guantánamo estão em posição precária. O partido democrata dos EUA anunciou que não liberará a verba necessária para fechar a prisão de Guantánamo (não a base naval, como muitos acreditam). Acontece que ambos partidos no congresso requerem detalhes meticulosos sobre o assunto antes de decidirem a questão. O maior empecilho atualmente é onde colocar os suspeitos de terrorismo.

            Por mais hipócrita que possa parecer, os dois partidos do congresso se manifestaram veementemente contra abrigar os prisioneiros em solo americano. A razão dada ao público: medo, como sempre. Os senadores expressaram preocupações de que abrigar os detentos nos EUA, até em prisões de segurança máxima, aumentaria o risco de ataques terroristas. Engole quem conseguir.

            Tenho minha duvidas de que o medo real dos atuais governantes, não é de ataques terroristas, nem da minúscula possibilidade dos detentos escaparem. O medo real de qualquer governo que se diz democrático é, ou pelo menos deveria ser (ex. Brasil), sempre o mesmo: a opinião publica. Afinal, imagina as repercussões de constantes protestos enfrente às prisões por grupos humanistas, e cidadãos indignados com a guerra. Out of sight, out of mind. 

            Na prisão da base naval de Guantánamo, litoral sul da Cuba, os prisioneiros aguardam esquecidos pelo tempo. Os debates políticos, assim como a investida de grupos de direitos humanos e algumas publicações, contra as detenções não têm a mínima chance de gerar qualquer conclusão enquanto não se abordar a questão essêncial.

            Que direito tem os EUA de deter estes homens? Contra quantos deles existe sequer uma prova incriminadora? 

           O documentário Caminho para Guantánamo mostra claramente a arbitrariedade com que tantos destes homens foram capturados. Pode se argumentar que se trata de um caso isolado, mas quantos outros decorreram das mesmas normas usadas para capturar estes “terroristas?”  

            Então, onde vão parar estes detentos? Será que o governo Obama vai ter que recuar novamente em suas tentativas contra a situação herdada em Guantánamo?

terça-feira, 31 de março de 2009

Contrassenso

Jean-Jaques Rousseau acreditava que todo o mal do mundo nascia da desigualdade. Enquanto defendia que a desigualdade física era incorrigível , acreditava que era nossa obrigação diminuir a desigualdade política/moral. O governo parece desconhecer essas filosofias que há tempo revolucionaram a forma do homem pensar.
Foi anunciado ontem um corte de dez por cento do custeio e investimento em educação. O impacto: Quem sabe. Já faltam professores, alunos passam de ano automaticamente, e poucos são alfabetizados. Mais adiante os que quiserem um diploma universitário precisam chegar armados na fila, porque vaga meus caros... são outros quinhentos.
Enquanto o sistema carece de vagas universitárias para os milhares que saem do segundo grau a cada ano, nossos governantes ousam ostentar a existência de um sistema de educação público. E apesar dessa violação grossa da Razão(também nascida da revolução) vemos a desigualdade infiltrada no resto do sistema. A nota média nas escolas públicas sendo abaixo de 6, os que podem são basicamente obrigados a gastarem fortunas com educação particular. Assim sendo, a sociedade se encontra segregada entre aqueles com instrução, e portanto perspectiva de empregos dignos, e aqueles que passarão as vidas infusos na ignorância, sujeitos ao trabalho escravo (485 reais é escravidão!). Pelo menos existe coerência: Não tem vaga na faculdade mas eles não têm instrução para passar na prova mesmo...
Há 250 anos Rousseau escreveu sobre a busca pela liberdade. Acreditava que essa só podia ser simulada, pois a sociedade, por sua essência, a cerceia. Mesmo assim arguiu que somente reduzindo as desigualdades chegaríamos a este estado de “menos mal”. Como todo produto importado, talvez as idéias chegarão aqui algum dia, claro com uma taxa de importação...

domingo, 15 de março de 2009

Novidade, em termos...

Barack Obama assinou uma ordem executiva que permite a pesquisa de células tronco embrionárias e que o departamento de Health and Human Services patrocine tais estudos. A questão divide o povo. Um lado (41%) usa o argumento conservador, o outro ( 52%) defende as pesquisas na esperança de novas curas. Os méritos não me importam. De qualquer forma é um passo monumental para a ciência nos EUA.
Pelo menos foi o que pensei até descobrir que o decreto de George W. Bush contra o uso das células em 2001, pouco afetou a legislação estadual no país. Isso mesmo. Na realidade os estados de California, Connecticut, Illinois, Maryland, Massachusetts, New Jersey, New York e Wisconsin não só passaram legislações na época legalizando as pesquisas, como de fato produziram centenas de linhagens de células tronco embrionárias nos últimos anos.
Mas como que é possível? podem indagar.
A desobediência foi fruta da forma com que Bush proibiu o uso. Na época deu a diretiva em forma de Executive Order(equivalente a Decreto no Brasil), que não tem base explicita em lei constitucional. A ferramenta executiva tem sido debatida durante anos. Bush, que desgastou o artifício durante os dois mandatos, arriscava perda insuportável caso desafiasse a ousadia dos estados nas cortes. Podia chegar ao Supremo e limitar seu escopo de ação. Sendo assim teve que engolir.
Mas voltando ao miolo do pão, porque decretar (sem base legal) algo que já estava legalizado em tantos estados? O sal do molho (gostou?) é que até então fundos federais não poderiam ser usados para as pesquisas. O ato de Obama abriu o caminho para pesquisas de célula tronco com um investimento real. Agora temos que aguardar.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Back to Business


    Engraçada a relação tão intrínseca do mundo com a economia. No início do século vinte o Carro Elétrico dominava. A eletricidade era produzida à base de combustíveis fosseis para carregar a bateria dos carros. Mas com o desenvolvimento das Economias de Produção surgiu um aumento da dependência sobre o Veículo, e consequentemente um aumento de vendas. E com isso surgiu uma oportunidade no mercado. Por que extrair combustíveis, para então gerar eletricidade, e depois carregar o carro? Poderosas como Standard Oil (Exxon Móbil), logo viram que não se precisava mais do “middle-man”. Podiam simplesmente refinar o óleo e vender gasolina diretamente. Cem anos depois, em meados de uma crise das grandes produtoras de veículos, são os mesmos incentivos econômicos que revitalizaram das cinzas o modelo Elétrico.
    Detroit anuncia este ano seu plano para começar (voltar) a produzir carros eléctricos. Para aqueles que pensam que os motivos são ambientais, pensem novamente. A maioria da eletricidade produzida nos Estados Unidos vem da queima de Carvão. Para os que não sabem a queima de carvão é a forma mais danosa ao ambiente de se gerar eletricidade. E diante das tecnologias de produção de eletricidade virtualmente limpas à base de vento (veja ao lado minha foto na Alemanha) e água, podemos descartar a defesa dos propósitos ambientais. Mas então por que será?
    Lá vem a economia de novo. Pergunto: O que fariam empresas como a Exxon Móbil se de um ano para o outro os carros do mundo não precisassem mais de seus produtos? Falência, crise econômica, caos... E lógico com tantas noticias informando essas multinacionais que o mercado esta começando a andar nesta direção estas começariam a inovar sua oferta de produtos, integrar novos métodos (etanol, biocombustível, etc.). Esquisito que a Exxon Móbil acaba de votar em sessão fechada a continuar o investimento na produção de petróleo? Já matou a charada?
    A verdade é que quando Detroit começar a produzir estritamente carros elétricos, os EUA poderão abandonar o carvão e simplesmente ajustar sua produção elétrica para a base de petróleo. Assim, não matarão de noite para o dia um dos mercados mais importantes a sua economia nos último século. Afinal, seja o petróleo Americano ou não, são as empresas deste pais que controlam a maioria do transporte marítimo internacional do produto (onde mais se lucra).
    Porém, a campanha de propaganda já funcionou. A CNN e a Reuters fizeram com que o mundo ficasse feliz com a idéia. Foi um esforço tão eficiente quanto aquele que faz o carioca pensar que está andando de metro enquanto fica em pé num ônibus de Copacabana à Barra.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona

     Se houver poesia nesta vida, e creio que não, o diretor morrerá sem completar qualquer outro trabalho. Deixará Vicky Christina Barcelona, sua obra prima, como um ponto final na bela frase que foi sua carreira. Me lembro de ter comentado a alguns anos quando vi Matchpoint, que o diretor tinha acertado perfeitamente em sua migração de Nova York para Londres. Na época acreditei que sua densidade de trama e diálogos, perdidos na cultura esvaziada dos EUA, teriam se encontrado. E apesar de ter defendido esta opinião em varias ocasiões aos fissurados em Allens’ N.Y., nunca poderia ter previsto o que ele faria de Barcelona. Mas preparam-se pois não trata de um típico filme Woody Allen.
     Paixão, real paixão, foi capturada poucas vezes nas telas. Identificado por um calor de inspiração que nos deixa silenciosos, respirando com leveza, semi-embriagados. É neste estado que observamos as paixões do filme que se infiltram em nossas almas. O filme é altamente sexual em seus detalhes ricos em cor, contraste, e cenário. Ao passar por Las Ramblas na tela, o filme nos leva a sentir o cheiro da rua cheia de vendedores. E sem nem se levantar o espectador, inconsciente, é transportado a Barcelona.
     A maior divergência do modelo Allen se encontra nos diálogos. Acredito que as falas originais foram abandonadas, em paradigma, por Penélope Cruz e Javier Bardem, dois dos quatro personagens centrais. A expressão destes personagens não segue o clássico dialogo ou construção lógica do grande diretor. As falas se mesclam entre inglês e catalã. Duas atuações impecáveis.
     Scarlett Johansson, talvez por ter virado costumeira nos filmes de Allen, já se enquadrou mais no estilo de discurso obsoleto que o diretor constrói. A atriz não deu nada de especial ao filme fora seu nome e beleza. A quarta parte do quebra-cabeça porém, Rebecca Hall foi brilhante. Até onde enxergo deve ter se mantido no estilo do diretor, mas teve um entrosamento tão grande com seu papel que cheguei a sentir sua falta na tela. Ela ‘vende’ a interpretação de uma americana neurótica, falando as palavras de Allen, mas com um ar autentico que poucos conseguiram fazer. Até a Diane Keaton, que em Annie Hall conseguiu vender sue peixe, deixou algo a querer nas demais obras de Allen.
     Com uma trilha sonora afiada, repleta de Café del Mar e Gypsy Kings, Allen conseguiu capturar a alma de Barcelona. E por mais que seria um ótimo filme para encerrar a carreira, o espectador em mim espera que ainda veremos o clássico “Written and Directed by Woody Allen” na Grande Tela novamente.

domingo, 9 de novembro de 2008

Mãos Dadas

       Meu cachorro acredita que minhas mãos são independentes. Talvez por ser minha esquerda que o alisa da minha poltrona de domingo, enquanto leio os diários. Ou quer por minha direita ser mais proeminente na hora de castiga-lo. Com tempo meu ‘pequeno diabólico’, como gosto de chama-lo quando come meus sapatos, aprendeu a diferenciar, e agora evita a ultima por completo.
       Dizem por ai que o Candidato do Mundo ganhou esta semana. O Nosso Candidato como estão chamando. Acredito, mas pergunto o que é um homem se não um resumo de todas suas decisões e ações. Algumas publicas, outras nem tanto. Nada se define num momento ou numa palavra, existem sempre dois lados, uma foto vale por mil palavras... e outras frases esvaziadas.
       Vemos um ícone surgir das cinzas de um país que a décadas começa ( declarar não, aí seria serio) guerras e manipula acordos econômicos para sua própria vantagem, em detrimento daqueles que diz ajudar. Mas não quero interromper a euforia do mundo. Os analistas dizem que o mundo mudou. A unilateralidade que brotou na década de 90 morreu, e uma nova era esta prestes a nascer. Acreditam também o fim do neoliberalismo. Pelo menos defendem essas idéias em seus editoriais.
       Nós como sempre acreditamos e esperamos a mudança anunciada. Celebramos as eleições sem sequer saber as posições dos candidatos. E até quando sabemos, será que sabemos mesmo?
       Não duvido em alguns valores de Obama, e se votasse nos EUA teria votado nele. Sei por exemplo que ele será mais pragmático com o mundo do que seu antecessor. Também não sei como poderia ser menos. Especialmente diante das atuais crises. Mas lembro sempre que um Presidente deve ser um servidor ao seu povo. E por mais que se elegeu um homem de Mudança, será que as industrias, que há um século definem a política externa dos EUA, mudarão com ele? Espero que sim, há tempo. Mas a regra do jogo é lucro, e isso ainda não mudou.
       As empresas continuarão querendo menos regulamentação e burocracia para poderem competir com as Chinas e Índias do mundo. E nós, cidadãos comuns, não veremos estes incentivos refletirem nos preços. Um Presidente é um produto. Produto dos desejos das empresas, da economia, e dos cidadãos. Lamentavelmente nesta ordem. Será que o Nosso candidato nos olhará com o mesmo carinho que seus compatriotas na próxima reunião financeira? Ou até no dia-a-dia?
        Não pretendo ser um cínico. Se bem que sou, confesso. Mas existem horas quando nada é tão claro. As linhas ficam obscuras e o que passa por cinismo pode ser nada mais que bom realismo. Tal é o caso com meu cachorro. Por mais que ele se esconde da mão direita, não enxerga que a esquerda é fruto da mesma raiz. Quais serão as raízes de Nosso candidato? E com que mão será que ele regerá?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A 'America' existe?

Ontem fiquei assistindo as eleições americanas até as 3 da madrugada na CNN. Diverti-me muito com as caras de republicanos como Bill Bennet, que se esforçaram tanto para não declarar guerra nos demais comentadores do ‘Situation Room’. Como se sabe o partido deles é bom nesse tipo de coisa. Mas apesar da minha euforia devido à derrota esmagadora dos Republicanos, ou como são conhecidos a ‘Good Old Party’, algo me pegou errado. Quem são esses tais African Americans? Pensei a principio que se tratava dos Negros. Mas a denominação étnico-historica me fez pensar duas vezes. Será que estou delirando ou o termo, de fato, seria mais excludente e racista do que um simples ‘black’?

Quando ouço o termo African American fico pensando numa mulher dando parto num avião Estadunidense a caminho da África. Mas se de fato se trata da comunidade negra nos EUA, então nada faz sentido mais. Explico.

Digamos que Jonathan Kendall (ótimo nome americano), nasceu nos EUA. Seus antepassados há 500 anos vieram da Kenya, onde foram raptados para serem escravos americanos. Jonathan não sabe onde fica a Kenya, e se bobear a África. Mesmo assim falaram ao nosso jovem a vida inteira que ele é um tal de African-American. Ele aceitou. Jovens, humpf. Mas se o seguinte for verdade, então o John Mccain seria um Irish-American, o Rudolph Giulliani um Italian-American, e o Arnold Shwarzenneger um Austrian-American, ou um babaca, dependendo de sua ideologia política e cultural. Porém, dado este enfoque não existiria, de fato, nenhum simples American, e conquanto uma America. O país seria somente um burraco negro onde turistas permanentes vivem num estado de eterna temporariedade. (Oximoro de primeira).

Mas o que isso significa? Sei lá, está tudo tão incerto recentemente. Afinal os Republicanos não perdem tão feio desde... bem, nunca. A única coisa que sei é que o termo African American está errado e segrega cada vez mais uma sociedade já tão separada. Ontem a noite não houve uma vitória dos African Americans, e sim uma vitória dos Americans. Caso contrario estamos todos ferrados. Afinal, se o Jonathan após 500 anos ainda não foi aceito como um Americano, Wanderlei Da Créusia, que agora mesmo mastiga paçoca em pé numa fila de consulado tentando conseguir um GreenCard, não tem a menor chance.

domingo, 19 de outubro de 2008

Brasistencialismo

     Esta semana o Jornal O Globo subiu na minha conceituação, por terem feito uma entrevista com o teórico Parag Khanna, autor do livro O Segundo Mundo. O livro dialoga abertamente sobre a importância dos paises de segundo mundo, ou emergentes, na atualidade. Khanna aplaude também o sistema sócio-democratico da União Européia, e o fim do unilateralismo estadunidense. É nesse sentido que acredito que deveríamos caminhar.
     O Brasil, apesar de estar muito longe da infra-estrutura, ou capacidade administrativa da Europa, deveria se medir contra o Mundo Velho, na espera de aprender com o que já funciona. Foi assim que me preparei para escrever estas linhas.
     O problema, ao meu ver, é que atualmente tentamos agir como um pais desenvolvido, enquanto nas ruas nem nossas policias conseguem concordar... Para falar a verdade a existência de duas instituições para fazerem o que é essencialmente o mesmo trabalho, me parece coisa de terceiro mundo. Enquanto isso, no âmbito social continuamos insistindo na falta de reforma.
     Os programas sócias não encontram nenhum apoio do outro lado. São balas perdidas num pais de poucos escudos. Parece que tudo é feito a base de atos divinos de ‘Isto, consertará o Brasil’. O que o governo parece não ter observado é que consertar o Brasil requer uma estratégia bastante ampla. Aqui encontramos o único sistema de assistencialismo do mundo genial e capaz o suficiente para resolver as coisas de noite pra dia: o Brasistencialismo. Funciona mais ou menos assim.
   - Vamos doar ao pobre condições, as custas daqueles que têm dinheiro para contribuir, para que ele possa comer e se sustentar.
   - Beleza! E qual é o próximo passo?
   - Como assim próximo passo?   - Como assim ‘como assim’? O próximo passo, o plano.
   - Plano? Mas já resolvemos, agora não tem mais pobreza. Estávamos até pensando em dar viagens à Europa ano que vem para acabar com a crise dos feriados...
   -??!?!
     Lógica incontestável, mas se a idéia é um sistema de doação onde dez por cento do país sustente noventa por cento, então já vou mudando de lado. O que precisamos é de uma estratégia que tenha como objetivo o desenvolvimento sustentável. Não se pode financiar a pobreza, ao custo dos que tem dinheiro, se não a mensagem que se passa é: Relaxa, nós pagamos a conta. (É meu bordão de campanha, não roubem). Mas qual será então a questão fundamental para mudar este quadro? Concordo com os muitos que dizem que é a educação. Afinal, Como que se pretende estimular crescimento dentro de uma nação cujo nota media de educação é um 5. Não rola. Pode até ter emprego, mas quem vai trabalhar? Com media cinco, não podemos nem ter certeza que o cara vai encontrar o prédio onde trabalha.
     Claro, para que a melhora da educação tenha qualquer efeito, é necessário também criar empregos. Caso contrario, será mais uma bala perdida, e em vez de ouvir – Perdeu! ao andar pelas ruas, ouvirá- Vossa mercê extraviou-se! Sem grande diferença na finalidade.
     O brasileiro mediano (não médio- existe uma diferença como apontou João Ubaldo Ribeiro a algumas semanas) nasce na pobreza e se depara com escolas irrisórias, hospitais que não funcionam, e uma cidade abandonada. Quando acaba em um morro traficando ou assaltando no meio da rua, a sociedade pergunta porque? Ok podia ter escolhido outra vida mas como quando as próprias faculdades “publicas”, e digo essa palavra com o maior quantidade de ironia possível, não abrigam mais que uma fração dos alunos que graduam do segundo grau todo ano. Isso sem contar os que não chegam lá. Inclusive me parece um erro de nomenclatura. Pois se é publica tem que ter espaço para todos. Lima Barreto escreveu sobre a falta de vagas na Folha de São Paulo há cem anos. Ordem e Progresso? Vai, conta outra...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Cresvaldo e a Máquina

     Tenho que admitir minha alegria ao ver “meu” candidato no segundo turno. Mas o dia não foi tão cheio de alegria. Tantos incidentes de caráter ignóbil ocorreram que não sei exatamente como sinto. Refiro-me à categoria vereador.    

     Ao ver a lista dos vereadores eleitos meu queixo caiu. Falo de um dos vários “inhos” deste estado. Ou melhor, “inhas”. Como eleitores podem votar em uma candidata que está na cadeia, é alem da minha capacidade de compreensão. Mas essa possibilidade já diz muito sobre nossa cidade maravilhosa, e talvez sobre a própria instituição do voto.
     Defendo há tempo um procedimento, digamos, diferente. Já que o Voto Obrigatório não vai sair da pauta, devido às vantagens ocultas para os que pretendem nos reger infinitamente, sugiro então o Voto Obrigatório Qualificado. O que será? Vamos ver na pratica.
     Tomamos como exemplo Cresvaldo, um analfabeto, que mora numa área sujeita a grandes influências eleitoreiras. “Sugestões” por armados, promessas dos pretendentes, uso da máquina pública...Nada mais normal.     
     Neste sistema, Cresvaldo (nome perfeito para cidadão hipotético) acordaria normalmente no dia de votar. Como qualquer outro dia de eleição ele se dirigiria até a zona eleitoral, mas ao chegar no local se depararia com uma fila nova, antes da urna.
     Cresvaldo olha a sinalização mas não consegue decifrar os signos. Porém, como bom brasileiro, não é nenhum estranho a filas. Não pensa duas vezes. Finalmente ele chega à frente da fila, repetindo seus números “sugeridos”, onde o pedem para fazer o Teste do Voto. Ele hesita – Teste do Voto? Cresvaldo congela, pensa em sair correndo, mas é convencido a ficar. Chegando à tela do computador ele não encontra onde inserir seus numerozinhos memorizados. Aperta varias teclas e houve barulhos frenéticos do computador. Um atendente se direciona ao nosso cobaia, e lhe informa que sem saber ler Cresvaldo não poderá participar do resto do processo. Ele é dispensado. (Muito a seu prazer).     
     Caso consiga ler, Cresvaldo participará da prova. Trata-se de uma prova eliminatória. Por exemplo, se o cidadão não contribui com imposto de renda, sua prova termina. Q.I. insuficiente, game over. Caso contrario procedemos a uma prova básica sobre política. O senhor(a) sabe quem é o atual Prefeito? Governador? Senadores? Presidente? Por quanto tempo estes ficam em cargo? Quais são seus deveres e responsabilidades? São apenas alguns exemplos.
     Pode parecer radical para alguns, mas a estes digo que radical é o voto inconsciente. Afinal, apesar da nossa “inha”, foi eleito outro vereador que responde a 14 anotações penais. Culpa de quem?     
    Um povo sem a capacidade de se informar sobre questões de estado é altamente influenciável. E estes não podem ser encarregados de decidir nosso futuro. 


*** Em duas semanas os leitores deste blog poderão contar com uma matéria investigativa sobre fanatismo religioso. De autoria própria, claro... Aguardem

domingo, 21 de setembro de 2008

Coçando e Esfregando


Torna se cada vez mais difícil me manifestar neste espaço. Parece que em luz de minhas palavras, nossos governantes decidiram inundar (até mais) o cenário de corrupção. Tática astuta. Assim quando sento a escrever tenho tanto a falar que raramente digo algo. Entro em estado de apoplexia, e resmungo incoerências enquanto tento desesperadamente evitar os noticiários.


Não pretendia fazer listas como as de Carlos Heitor Cony, apesar de estima-las entre os mais belos trabalhos da prosa. Também não podia, por falta de competência e abundancia de respeito , gerar metáforas entre minha vida e as ocorrências, como João Ubaldo Ribeiro.

Apos ler os jornais, com depressão em alta, estava a ponto de trancar a maquina de escrever e o computador numa gaveta e perder a chave. Foi então que sentado no meu escritório tive uma idéia pra acolá de maluca. Decidi procurar a felicidade no único lugar que ainda confio: O dicionário.

“Próspero, afortunado, bem sucedido...” Não pode ser. Então, oitenta por cento do Brasil é infeliz. Pior, eu sou infeliz. Não podia ser. Fui ao mundo digital tentar encontrar outra definição. Cada lugar uma versão. Nenhuma satisfatória. Através de minha pesquisa encontrei que a palavra Felicidade está entre as mais enigmáticas de todos os tempos. Não existe definição que agrade a todos. Filósofos, sociólogos, psicólogos todos tentam abordar a questão, eventualmente sendo derrubados pelo infinito trabalho de defini-la. Afinal, tem até aqueles para qual a felicidade é a desgraça. E vice-versa.

Parece que os livros de auto ajuda, apesar de deploráveis em tantos aspectos, estavam certos sobre este ponto. Cada um tem que definir a própria felicidade. Por mim, continuarei tentando consegui-la a cada semana, enquanto denuncio com firmeza aqueles que atentam contra a nossa. E apesar de não saber responder o que é propriamente dita a Felicidade, podem contar comigo para atacar uma das poucas coisas que temos em comum como cidadãos: a infelicidade.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Faltando pouco para as eleições municipais, novamente tudo vale. Enquanto metade dos eleitores respondeu à Datafolha, durante Pesquisa Espontânea, que votaria nulo, percentagem semelhante dos candidatos ou é analfabeto, ou têm vidas pregressas "duvidáveis". Risível? Talvez. É só abrir o jornal para encontrar as falcatruas que se infiltram em todos os partidos. Compra de votos, currais eleitorais, propaganda irregular... nada mais normal. Na realidade, a única coisa que me espantou foi a voracidade com que o outro lado da moeda tem se mostrado. E-mails denunciantes, listas de fichas sujas, protestos, e cidadãos indignados. Parece guerra!

O povo armado com suas palavras de difamação tenta se proteger dos alto-falantes ambulantes, panfleteiros, e o tão temido horário eleitoral. Basta! A cidade maravilhosa cada vez mais se reduz a uma mera metáfora de si mesma? Por isso, estou disposto, como cidadão da paz, a propor uma trégua.

Srs. E Sras. Candidatos, nós, civis, estamos dispostos a parar de mandar e-mails xingando os senhores e suas linhagem, se os Senhores prometerem nunca mais nos acordar com esses alto-falantes às 8 da manha. Alguns de nós desfrutamos até tarde a liberdade total que somente a época pré-eleitoral proporciona, e, portanto não temos a capacidade de tolerar seus funks, jingles e bordões. Se estivermos de acordo neste ponto, sugiro então que abandonem, também, a idéia dos panfleteiros que nos atacam nas esquinas do centro.Em troca podemos oferecê-los menos hostilidade durante suas caminhadas pela orla.

Deixei por ultimo o maior pedido. Já que menos de 5 % dos eleitores tem qualquer conhecimento sobre as posições ideológicas e propostas dos senhores, vamos parar com esta palhaçada de horário eleitoral? Nós queremos nosso JN, nossa novela, nosso futebol! Em troca estamos dispostos a ceder aos senhores por total a persecução contra corruptos, ativos ou passivos.

E aí, topam?

domingo, 17 de agosto de 2008

Geórgia e os fantasmas


        No meio das recentes confusões que ocorrem no Cáucaso, e o potencial de futuros imbróglios no leste europeu, fui obrigado a retomar a crônica semanal. Abafo? Talvez.
Todos sabemos que houve alguma coisa na Geórgia recentemente. Para os que crêem que não passou de uma escaramuça, receio informar que constou de uma Guerra. Breve, mas guerra.
             Primeiramente, fiquei pasmo com a decisão do Presidente da Geórgia. Um pais do tamanho de um caroço de azeitona que decide atacar uma área sob proteção de uma das maiores potencias militares do mundo, se não for heroísmo, é, simplesmente, idiotice- talvez os dois. Mas não consegui passar deste ponto sem analisar melhor. Realmente, nada na carreira de Mikheil Saakashvili o retrata como um homem que atenta ao heroísmo, muito menos à lastimável situação de idiota. Mas então porque esta jogada?
             Certos jornalistas americanos estão convencidos que Mikheil não imaginava tamanha reação. Minha premonição, porem, é outra. Somente com garantias de reforços militares, ou de apoio da comunidade internacional, que um país com um orçamento militar menor que aquele que o estado do Rio destina à manutenção de pingüins, se aventuraria em tamanha enroscada. Mas ninguém apoiou. A comunidade sentou nas mãos e assistiu a Geórgia ser bombardeada. Logicamente só podemos deduzir que houve um apoio falso. Talvez, até intencionado a outros propósitos. Um grande escritor me ensinou a considerar sempre no jornalismo a questão chave: Qui Prodest?
            Então, quem se beneficiaria? Seria os Estados Unidos, que a 18 meses tentam instalar um escudo de defesa em solo polonês. As negociações sofreram por meses devido à indisponibilidade dos “Estates” de acomodar aos pedidos dos poloneses por armamento americano. O negocio acaba de ser fechado, porém, deixando os poloneses com uma, isso mesmo, somente uma arma de defesa. Claro, não é nada pequeno, mas trata-se de menos da metade da quantidade de armas que os poloneses requeriam. Um ataque russo à Geórgia poderia botar os poloneses aflitos, sendo que ambos são ex-países satélites da Rússia. Talvez aflitos o suficiente para ceder uma base de defesa americana em solo nacional, assim se aliando contra uma futura invasão russa. Mas, será que instalar um escudo na região é motivo suficiente para instigar uma guerra? É, talvez não.
             Mas então quem mais se beneficiaria com esta guerra? Talvez foram os ucranianos, que vendo o eventual retorno da Republica Autônoma de Criméia ao controle russo, decidiram atrair o foco do mundo para o Cáucaso? Claro, poderia ser dito que Criméia não fica no Cáucaso. Mas estrategicamente Criméia é um grande beneficio aos ucranianos. Recentemente, os russos deixaram bem claro ao mundo, quando cortaram a energia ucraniana, que petróleo na Ucrânia é um mercado russo. A Criméia por ser um porto autônomo, pode receber o petróleo Britânico que passa pela Geórgia, e a Turquia, e consequentemente repassar aos ucranianos sem deixar os russos alterados. Portanto, a conquista da republica autônoma de Crimeia, onde o idioma oficial é russo e 70% dos cidadãos são de fato russos, seria interessante para a Rússia. Mas os russos não poderiam simplesmente tomar controle da Crimeia sem alguma resposta do mundo. Só, claro se ninguém soubesse o que estava acontecendo. A África serve de exemplo que o mundo fecha os olhos se não houver interesse internacional. Por isso pergunto: Será que atrair atenção mundial ao Cáucaso e aos ex-satélites da Rússia beneficiaria os ucranianos? E será que este interesse seria suficiente para instigar guerra? Talvez não.
             Sou acusado constantemente de adorar uma boa conspiração. É verdade. Admito. Mas com boa razão, pois acontece que a maioria das conspirações que ouvimos e descartamos acabam anos depois, sendo confirmadas como fato. E o que me parece verdade é que alguém assegurou o presidente da Geórgia que eles teriam apoio militar caso tentassem tomar a Ossétia do Sul. Mesmo assim, não pretendo saber definitivamente o que aconteceu na Geórgia, e muito menos saber como aconteceu.
             Existe a possibilidade do presidente da Geórgia ter realmente subestimado tanto a reação da Rússia? Existe, concedo. Somente não me parece provável. As possibilidades são infinitas. Muitas nações se beneficiaram, e ainda se beneficiarão com a Guerra da Geórgia, menos, claro, a Geórgia.

domingo, 3 de agosto de 2008

Jogos do Poder


Graças à locadora “SuperVideo” de Ipanema, tive o prazer divino, esta semana, de assistir Jogos do Poder (Charlie Wilson’s War no original). O filme se baseia numa historia verídica sobre um parlamentar (Charlie Wilson) dos EUA que, com o apoio do governo, arma os afegãos durante a guerra do Afeganistão com a Rússia, na década de 80. Uma vez digerida e adaptada para a grande tela pelas mãos capazes do roteirista Aaron Sorkin, a historia vira um ensaio clássico do cinema contemporâneo. O filme é repleto de política internacional, ao mesmo tempo mantendo um tom sarcástico e humorístico, através do personagem Gust Avrakotos, interpretado por Philip Seymour Hoffman.
Hoffman, que atualmente é considerado entre os maiores nomes de Hollywood, comanda o elenco apesar de ser um mero coadjuvante. O filme conta também com a presença de Tom Hanks (Charlie Wilson) e Julia Roberts. Ambos em representações, infelizmente, esquecíveis. Mas o apelo maior do filme não se resume aos atores. A intriga do roteiro é justamente o desvendar dos bastidores de uma guerra, de inicio ao fim.
Fora a atuação aplaudível de Hoffman, e o roteiro do celebre Sorkin, o filme conta com mais um aspecto mirabolante: a direção. Com pinceladas de mestre, o diretor, Mike Nichols, mistura cortes rápidos com seqüências demoradas para instigar ansiedade e emoção no espectador. Bem no estilo de Nichols, o filme cavalga num passo consistentemente sinuoso e elegante, deixando qualquer um atento ao desenvolvimento.
Jogos de poder, pode ser considerado uma mistura entre Ishtar e Syriana. Em apenas 92 minutos de duração, o longa-metragem “nem-tão-longo” não deixa de ser uma noite de cinema completa.

domingo, 15 de junho de 2008

Palhaçada? Vai se acostumando...


         Se todos nós falamos o mesmo idioma aqui no Rio, fora os argentinos vendendo colares e pulseiras no arpoador, então por que não existe um diálogo maior entre as classes? Infelizmente, nossa sociedade é segregada em tudo, até em ônibus, onde 50 centavos pode ser a diferença entre até três classes econômicas.
        Me ocorre então que talvez a questão de língua não se define somente por idioma, e sim por uma equação de IDIOMA+CONTEÚDO. Sendo que o conteúdo, talvez, pese mais.
        As sociedades se dividem, irrelevante das políticas de inclusão, e sempre se dividirão. Não importa o que você fala; seja inglês, francês, ou árabe, o que realmente importa é SOBRE o que você fala... como se a divisão entre os tipos de linguagem ( Culta, Informal, e Vulgar) pudesse ser aplicada a conteúdo.
        No caso, existiria um conteúdo culto ( Wagner, Bauman, Costa-Gavras), um informal (Madonna, Kellner, Spielberg ), e um Vulgar (Mc Sapão, Paulo Coelho, Jim Jarmusch).
        Para explorar esta teoria, diga-se que três homens estão naufragados em uma ilha deserta. O primeiro, chamaremos de Helmut um banqueiro alemão de conteúdo culto. O segundo um sociólogo japonês Akira, também de conteúdo culto. E um terceiro, Wanderleison, um caminhoneiro nordestino cujo conteúdo seja vulgar (Se a realidade parece racismo, estamos mal). O que acontecerá?
        Acho que é realístico supor que Helmut e Akira por terem uma cultura semelhante formarão laços inalcançáveis a Wanderleison. Não que ele seria abandonado, mas o seu cânon, e por isso seu conhecimento cultural, o limitaria em muitas conversas. Formando uma barreira cultural. Talvez um exemplo fraco, mas se você entendeu, não canse minha beleza. (como diz minha bisavó)
        É triste essa realidade, até porque Wanderleison deve contar as melhores piadas entre os três, e possivelmente é o mais divertido. Mas as realidades não deixam de ser verdade só por serem desagradáveis, como acreditam grande parte de nossos políticos. 

        Mas por que todo este discurso? Porque se realmente as linhas da segregação de nossa sociedade se baseiam em barreiras culturais, ou conhecimento, então existe uma solução simples para esta segregação: a educação. Se Helmut, Akira, e Wanderleison fossem igualmente educados, eles teriam uma plataforma para discussão ou seja uma base para a integração.
      As notas divulgadas esta semana para nosso sistema de ensino foram um vexame internacional. E para provar novamente a habilidade de nossos políticos, o Ministro da Educação conseguiu sem vergonha na cara expressar felicidade porque aparentemente superamos as metas do MEC para este ano. Mil desculpas por o que vou dizer agora, mas, puta merda! Se esses resultados superam a meta, então talvez o Brasil esteja realmente perdido como dizem por aí. Será que alguém colocou Whiskey no meu café? Será que o jornal em que li esta matéria virou um diário de comédia sem que eu soubesse?
      Quando superamos nossas metas e a melhor nota média do país é um 5, para mim a política de educação está não só falida mas incentivando a ignorância.

domingo, 8 de junho de 2008

Importado com o Exportado


            Vou avisando logo que após esta crônica posso acabar sendo obrigado a entrar em exílio, assim retardando a publicação da próxima crônica. Pêsames. Sei que para alguns não será um grande incômodo, mas espero, como qualquer escritor, que este grupo não seja muito grande.
           Esta semana tem sido repleta de conversas sobre o OMC e a proteção dos alimentos para que o mundo não sofra. Mas no meio de vários discursos eloqüentes dos lideres mundiais, lembrei de uma frase cujo autor me escapa, que sempre surge na minha cabeça cínica quando se trata de economia global: Não existe comunidade global.
           Explicarei para não soar ingênuo. O que a frase questiona é a vontade de governos individuais de fazerem o melhor para o mundo inteiro. No Brasil nem sei se passa por cinismo perguntar se os governos são realmente movimentados por vontades tão nobres no dia-a-dia das maquinas nacionais?
          A verdade é que cada governo joga por si mesmo(e as vezes até por seus cidadãos). Esperando agradar os moradores dos países que representam(alguns mais que outros) com suas atitudes. O que torna uma reunião para decidir como o mundo vai lidar com a falta de alimentos, em nada mais que uma convenção onde o real interesse é “Como que eu vou proteger o meu”. Se não fosse, a reunião duraria meia hora. Primeiro se olharia quanto o mundo produz de cada coisa, depois quanto cada um consume. Uma vez feito, começariam as distribuições proporcionais a preços iguais para todos, sem subsídios ou taxas de importação malucas. Mas o que acaba acontecendo é que todos querem lucrar, e os interesses das empresas falam mais alto que as do consumidor. No final acaba sendo o velho jogo capitalista: Winners and Losers.
          Foi então que me surgiu uma pergunta que não consegui responder. Por que, então, precisamos da comunidade Internacional? Calma não estou dizendo que não deveríamos trocar e aceitar mercadorias estrangeiras como o Iphone (estou doido pra comprar). Mas o Brasil como quinto maior pais do mundo tem solo suficiente para produzir tudo que precisamos aqui dentro. E por acaso tem também um numero suficiente de desempregados, ou empregados em atividades ilícitas que se aproveitados de forma legal, seriam uma força de trabalho gigantesca. Quem sabe podíamos até montar nossas próprias industrias, incluindo as de telefones celulares brilhantes.
           Mas e os salários? Quem vai trabalhar em agronegocio ou em alguma fabrica por um salário mínimo, quando pode ganhar um dinheirão no trafico do Rio? Bom, se o que sobra da arrecadação de impostos fosse usado para incentivar empresas que atuam no solo nacional invés das que funcionam fora do pais (como faz o BNDES que acaba de receber um aumento de 12,5 bilhões de nosso generoso Senado) resolveríamos a questão do salário mínimo em algumas semanas. Claro, não estou sugerindo que nossos impostos sejam usados para motivar a industria nacional e criar empregos. Isto seria um absurdo.(Aviso: Sarcasmo é a forma mais baixa de humor)
          Não entendo como um pais como o nosso pode estar olhando pra fora quando o cenário interno esta tão ruim. Afinal, quando eu pago impostos quero que estes sejam aplicados na manutenção dos espaços públicos, na proteção dos cidadãos, no prover de água e alimentos, e para financiar as instituições publicas, (Administração, Saúde, Justiça). Prefiro deixar para investir meu dinheiro no metro de Caracas (isso mesmo, na Venezuela), como faz nosso sagrado BNDES, quando tudo aqui estiver funcionando. Aí, sim, podemos conversar.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A real "Inflação"

Pô se eu pegar este dinheiro da bolsa da mamãe ela nem vai se dar conta. E também é tão pouquinho, que nem faz diferença. Se eu pedir ela vai dizer que não e eu quero tanto comprar aquela bola de futebol, que não faz sentido ficar sem- o menino pensou enquanto deslizava os dedos entre as dobras da carteira.

Ah não tem problema colar na prova. Afinal ta todo mundo fazendo e se eu tirar uma nota baixa meus pais vão ficar chateados, ai vai ter conseqüência. Se for pra vir ate aqui todo dia e ficar reprovado só porque não gosto de estudar, não venho mais. É só sentar perto daquela menina com os óculos que sempre presta atenção e anota tudo que no meio da prova eu falo com ela pra liberar- o moleque planejou enquanto escovava os dentes.

Então o esquema é o seguinte, nos vamos vender monografias de faculdade. O João, nosso cabeção, vai escrever os trabalhos e nós vamos vender camisetas pra nos proteger. Assim, o cara que quiser comprar um trabalho no esquema, vai comprar primeiro uma camiseta pelo preço que for pagar no trabalho, digamos 100 reais, e em retorno enviáramos a ele o trabalho de faculdade, e o sortudo ainda fica com a camiseta. Porque a camiseta? Para poder explicara imensa quantidade de dinheiro que vamos faturar nesse esquema. Assim, ficamos limpo, todo mundo sacou?- o rapaz indagou aos colegas de seu lugar na cabeceira da mesa da sala, minutos antes de seus pais chegarem do trabalho.

Esse João esta começando a encher o saco. Ta sempre querendo mais e mais. E dai se é ele quem esta produzindo os trabalhos. O esquema é de todos nós. Todo mundo tem que ganhar nessa parada. E as camisetas estão vendendo pra caraca. Então se esse cara quer mesmo causar problema, que se dane, tem bastante CDF por ai passando fome que faz os trabalhos pela metade do que estamos dando a ele. Por mim nós afastamos desse babaca.- o moço aconselhou logo antes do grupo decidir por se livrar de João.

Tudo no esquema. Casas em nomes de laranjas, caros em nome da mamãe, a vida realmente é bela. Se todos os esquemas entrarem na data este ano, eu vou ter faturado na casa dos 4 mizão. É isso mesmo meu chapa, você é o cara. Você teve que da duro, claro, e algumas decisões foram obviamente desagradáveis. Mas todas necessárias, sem elas não teria chegado aqui. Prestes hoje a ser recebido pela casa. Finalmente, cheguei em um lugar bom. Vivendo relaxado, agora sim, o céu é o limite! -ele refletiu enquanto encarava seu reflexo no espelho do banheiro de sua cobertura sua mulher ainda dormindo no quarto.

Senhor presidente, eu gostaria de aproveitar esta oportunidade para homenagear a mais recente adição a esta casa. Em nosso colega teremos um exemplo de ética e honestidade. Ele sim será uma adição crucial a esta casa. E gostaria de dizer aqui para todos os senhores Senadores que não só o conheço desde os tempos de faculdade quando começamos nossa primeira empresa juntos, vendendo camisetas, empreendimento humilde que levou grande esforço, mas que também confio nele como um irmão e um grande homem, que lutará conosco pelos princípios que defendemos aqui. Os princípios desta Nação.- os homens anunciaram no dia em que ele tomou posse.

domingo, 1 de junho de 2008

Um tapa na Cara...de quem?

Esta semana diante de um novo temporal de acusações de corrupção obviamente verídicas, fomos comparados ao Chicago de 1930. Concorde ou não, não deixa de ser uma comparação forte. Para quem não conhece a historia se trata do gangsterismo de Al Capone. Um criminal admirável, para quem admira essas coisas. (no rio, aparentemente, todos)

Capone atuou na época da lei seca em Chicago, produzindo e distribuindo bebidas alcoólicas. A maioria de Chicago tinha uma empatia ao gangster, por discordarem da lei, inclusive os policiais que se beneficiavam do arrego e das bebidas. Até ai da pra ver uma semelhança com nossa cidade maravilhosa. Mas a diferença esta na dinâmica do problema.

Capone não fazia parte do governo. E embora seus subornos a vários membros do estado serem de conhecimento publico, quando finalmente foi pego pelo jovem Elliot Ness, perdeu um apelo nos tribunais e cumpriu 11 anos de prisão. Ou seja, quando a policia pegou, o Judiciário funcionou, e o bandido se danou (vou virar poeta). Mas é assim que funciona quando alguém é preso, cabe ao Judiciário apoiar ou reverter a ordem. Claro isso no primeiro mundo.

Na nossa terra porem, temos um sistema digamos um tanto diferente, mesmo assim igualmente fascinante. Aqui, o Legislativo pode libertar um homem! Isso mesmo, o órgão que faz as leis, também, aparentemente, pode julgar como elas estão sendo aplicadas. Esqueça aquela besteira sobre balanço de poderes.

Para quem chegou até aqui sem saber do que se trata, estou falando da decisão risível da Alerj de libertar Álvaro Lins. Álvaro como todo mundo já sabe, incluindo meu padeiro que é analfabeto e cego, é mais culpado que um padre num convento as três da madrugada. Parece, inclusive, que os únicos que não sabem disto são os 40 deputados que votaram na Alerj a favor da libertação.

Mas onde estão os nossos Heróis? Onde está o nosso Elliot Ness para arrastar o Capone até a prisão? E mais importante, onde está o nosso judiciário para garantir que ele fique lá?
Sem fazer apologia, existia lógica em Capone. Por mais infrator que ele era, por mais danoso à sociedade que ele pudesse ser, ele não era eleito, não se sustentava com finanças publicas ou as explorava. Ele não era um protetor da sociedade, era cidadão. E nisso Lins, consegue ser pior, pois abusou da confiança do cidadão.
 

Em realidade o caso só fez provar novamente que não existe coerência em nosso sistema. E os eventos desenrolam de uma maneira que nos deixam perplexos. A comparação é forte sim, e Chicago era um cenário cheio de corrupção e violência nos anos 30. Mas foi nesse mesmo cenário que o sistema quebrou o ladrão. Aqui ao invés, parece que o Ladrão infiltrou o sistema. E por isso me pergunto, com quem é a maior sacanagem da comparação: Nós ou Chicago?

domingo, 25 de maio de 2008

Indiana Jones e o Templo Perdido

Esse fim de semana realmente foi incrível para quem, como eu, nasceu na década de 80. Apesar de Iron Man e Speed Racer nas telas, dia 22 marcou o lançamento de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Já fui avisando onde passaria meu sábado. Claro, deixei para ver por ultimo o Indiana Jones, meu herói preferido do Silver Screen. E como muitos da minha geração esta foi a primeira oportunidade de assistir o aventureiro encarar os vilões internacionais no telão. Que emoção.
Tentei evitar qualquer informação prévia sobre o filme para poder apreciar cada segundo com total surpresa. Varias vezes sai correndo de grupos onde o assunto brotava. Mas apesar de meus esforços lunáticos, fiquei sabendo através do orgulho patriótico de meu barbeiro que “sabia que o Indiano Johnys passa pelo Brasil nesse filme.”
Minha cabeça começou a girar. Tantas possibilidades. Tanto suspenso. Como seria? Quem seria o vilão? Comecei logo a imaginar o nosso “Indy” agora envelhecido, passando pelo Brasil. Quantos problemas a desafiar, inclusão social, racismo, economia... Porem, tenho que admitir que esperei o mesmo senso de “atualidade” que outros diretores têm dado aos heróis requentados recentemente (como o heptagenário Silvester Stallone espancando o campeão dos pessos pessados em Rocky Balboa). Tinha até imaginado alguns títulos no contexto Brasil como Indiana Jones e o Labirinto do Cartão Corporativo ou Indiana Jones e o Escândalo do Superfaturamento da Faetec. O que não faltou foi títulos.
Na verdade o que não falta no Brasil, são escândalos e obstáculos para um herói do calibre do Dr. Jones. Mas parece que os heróis não estão sendo produzidos no solo nacional em tanta freqüência quanto nos cinemas. O mais recente garoto propaganda, O Minc, já teve seus primeiros dois planos para controlar o desmatamento barrados, e agora acaba de admitir que vai começar a passar licitações mais rapidamente. Parece brincadeira, mas também o que se espera de um ministro sem terno (Ó xente!). E enquanto o Minc aparece nas capas dos diários vestido de palhaço com aqueles coletes, Cabral, demonstra na pagina dois todo seu talento ao andar de bicicleta. Agora só falta o nosso ursinho, O Lula, começar a fazer malabarismos, enquanto engole fogo, ou água ardente, e teremos um belo circo.
Mas parece que Indiana Jones também não se preocupa muito com a Amazônia. E ironicamente a ultima cena do filme é de Indiana e sua família sorrindo num por de sol enquanto ruínas indígenas explodem, destruindo parte do patrimônio Amazônico. Mas apesar de encaixar bem na atual politica do governo federal de ficar feliz com o desmatamento, tenho que admitir que esperava mais de nosso herói. Na realidade, só faltou o Indiana botar fogo em parte da mata Amazônica e começar a plantar arroz.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Enquanto a Roleta Roda...

O jogo de Roleta sempre foi meu preferido nos cassinos internacionais. Trata-se de uma mesa verde com uma roda roleta e um display de números em cores alternadas entre vermelho e preto. Neste display se colocam as fichas, ou apostas. Também pode se escolher apostar somente nas duas cores. Uma vez as fichas postas na mesa o “Crupier”, (cara que põe a bolinha na roleta) bota pra rolar. Fortunas se fazem ou desfazem na roda, e tudo pode mudar de uma hora para outra. Mas a roda é mais que um jogo. É uma metáfora para a economia mundial.

Digamos que cada apostador seja um país, e cada numero da mesa também. Podemos também ir um pouco mais longe e pensar nas duas cores da mesa como economias centralizadas(controlada pelo governo), e economias de mercado(de livre iniciativa). Nesta mesa, tradicionalmente, cada país apostava pesado em si mesmo, eventualmente colocando algumas fichas em outro numero, nunca em outra cor. O esforço de cada pais servia como lucro primeiramente dele mesmo. Mas a roleta rodou. E a partir de algumas décadas atrás, esta dinâmica mudou por completo.

Na economia moderna os apostadores jogam cada vez mais em outros números. Apesar de cor, procuram visar o lucro potencial. Alguns jogadores apostam em quase todos, estes chamaremos de superjogadores. Nesta metáfora a bolinha seria, claro, o tempo. E com este tempo é que vemos as apostas renderem, ou não. Eventualmente, os superapostadores têm que impor estrategicamente uma cor sobre algum numero, devido ao potencial de lucro. Mas os maiores conflitos de interesse não se encontram entre as duas cores, pois buscam objectivos diferentes, mas sim entre os números de cores similares.

Dizem que ganhamos um grau de investimento. O que isso significa na realidade? Em nossa metáfora seria o equivalente a uma reputação dada a um numero significando que apostar nele é confiável. Mas como que o mesmo pais que foi votado entre os dez piores lugares do mundo para se conduzir negócios pelo ranking do Banco Mundial em 2007, pode merecer agora tal aprovação na área de investimentos? Parece estranho? E é.

Chega de metáforas! A verdade é que o grau de investimento concedido ao Brasil, não é um aplauso mundial à nossa economia. Se trata de uma maneira dos superapostadores conseguirem liberar fundos para investirem aqui no Brasil. Por se tratar de um país emergente, o retorno pode ser bom. (É meus caros "país emergente" nada mais é que uma maneira bonita de dizer que não tem nada) E já que nosso próprio numero se ignorou por tanto tempo, tem tudo pra fazer aqui. E ai, o que isso significa para o Brasil? Investimento positivo? Talvez, mas imagina o que ganharíamos se o investimento fosse feita por companhias nacionais que pagariam impostos aqui.

E enquanto a roleta roda e os apostadores procuram cada vez mais o lucro internacional, onde esta nosso apostador? Infelizmente, no outro lado da mesa sozinho, apostando no dolár.

 
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