terça-feira, 7 de outubro de 2008

Cresvaldo e a Máquina

     Tenho que admitir minha alegria ao ver “meu” candidato no segundo turno. Mas o dia não foi tão cheio de alegria. Tantos incidentes de caráter ignóbil ocorreram que não sei exatamente como sinto. Refiro-me à categoria vereador.    

     Ao ver a lista dos vereadores eleitos meu queixo caiu. Falo de um dos vários “inhos” deste estado. Ou melhor, “inhas”. Como eleitores podem votar em uma candidata que está na cadeia, é alem da minha capacidade de compreensão. Mas essa possibilidade já diz muito sobre nossa cidade maravilhosa, e talvez sobre a própria instituição do voto.
     Defendo há tempo um procedimento, digamos, diferente. Já que o Voto Obrigatório não vai sair da pauta, devido às vantagens ocultas para os que pretendem nos reger infinitamente, sugiro então o Voto Obrigatório Qualificado. O que será? Vamos ver na pratica.
     Tomamos como exemplo Cresvaldo, um analfabeto, que mora numa área sujeita a grandes influências eleitoreiras. “Sugestões” por armados, promessas dos pretendentes, uso da máquina pública...Nada mais normal.     
     Neste sistema, Cresvaldo (nome perfeito para cidadão hipotético) acordaria normalmente no dia de votar. Como qualquer outro dia de eleição ele se dirigiria até a zona eleitoral, mas ao chegar no local se depararia com uma fila nova, antes da urna.
     Cresvaldo olha a sinalização mas não consegue decifrar os signos. Porém, como bom brasileiro, não é nenhum estranho a filas. Não pensa duas vezes. Finalmente ele chega à frente da fila, repetindo seus números “sugeridos”, onde o pedem para fazer o Teste do Voto. Ele hesita – Teste do Voto? Cresvaldo congela, pensa em sair correndo, mas é convencido a ficar. Chegando à tela do computador ele não encontra onde inserir seus numerozinhos memorizados. Aperta varias teclas e houve barulhos frenéticos do computador. Um atendente se direciona ao nosso cobaia, e lhe informa que sem saber ler Cresvaldo não poderá participar do resto do processo. Ele é dispensado. (Muito a seu prazer).     
     Caso consiga ler, Cresvaldo participará da prova. Trata-se de uma prova eliminatória. Por exemplo, se o cidadão não contribui com imposto de renda, sua prova termina. Q.I. insuficiente, game over. Caso contrario procedemos a uma prova básica sobre política. O senhor(a) sabe quem é o atual Prefeito? Governador? Senadores? Presidente? Por quanto tempo estes ficam em cargo? Quais são seus deveres e responsabilidades? São apenas alguns exemplos.
     Pode parecer radical para alguns, mas a estes digo que radical é o voto inconsciente. Afinal, apesar da nossa “inha”, foi eleito outro vereador que responde a 14 anotações penais. Culpa de quem?     
    Um povo sem a capacidade de se informar sobre questões de estado é altamente influenciável. E estes não podem ser encarregados de decidir nosso futuro. 


*** Em duas semanas os leitores deste blog poderão contar com uma matéria investigativa sobre fanatismo religioso. De autoria própria, claro... Aguardem

Nenhum comentário:

 
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.