quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Jogo de Espelhos

A recente oferta feita pelo presidente israelense de congelar por 10 meses a construção de assentamentos na Cisjordânia, que exclui projetos já aprovados e futuras construções de infraestrutura, representa a prorrogação de estratégias retardatárias à resolução dos problemas no região. Como alguns jornais brasileiros optaram por anunciar a medida de forma milagrosa nos títulos, para só depois explicarem que a ação é somente parcial, achei importante abordar aqui a engenharia da oferta.

Nos últimos meses após o discurso de Obama no Egito onde ele pediu o “congelamento imediato e total de assentamentos” Israel adotou uma posição e atitudes negativas aos pedidos do presidente norte-americano. A mais agravante sendo o recente anuncio da construção de 900 casas novas no assentamento de Gilo. Sendo que a posição para Israel já se encontrava difícil, homens sãos poderiam perguntar, por que então tomar uma ação tão forte? Para mim a decisão de anunciar um ato tão significativo logo após o anuncio de Abbas de que abandonará a liderança da autoridade palestina por falta de êxito nos últimos 4 anos de negociações, que em total já duram 18 anos, demonstra um teste direto á presidência de Barack Obama.

Timeo Danaos et dona ferentes. A oferta de congelar os assentamentos serve como um termômetro para de ver até onde podem ir com o novo presidente. Mas a tática já começou com as 900 casas anunciadas pelo Ministério do Interior. Se recebessem um tapa na mão demasiadamente forte, o primeiro ministro podia anunciar que não estava ciente dos planos mas que na busca pela paz pediria ao ministério congelar a construção, sairia como herói e jogava para os palestinos. No caso de um tapa leve, faria o que fez, o anúncio de uma medida cosmética que não o custa esforço real. E caso de não receber advertência alguma, o jogo estava ganho: Carte Blanche para Israel.

O erro foi justamente de Obama que ao invés de se pronunciar de forma firme diante o anúncio deixou para seu porta-voz Robert Gibbs expressar palavras levianas: tapa leve. Com isso Israel anunciou sua medida igualmente fútil e aqui estamos novamente diante de um impasse de duas décadas.

O estabelecimento de um país palestino é fundamental para a solução do oriente médio. Ações generosas e fieis à busca pela paz por Israel igualmente. A indignação do povo árabe e a iminente ameaça a Israel nunca desaparecerão se os israelenses não se desempenharem em ganhar respeito na região. E, infelizmente, posições como as adotadas recentemente trabalham no contrassenso deste objetivo.

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