segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona

     Se houver poesia nesta vida, e creio que não, o diretor morrerá sem completar qualquer outro trabalho. Deixará Vicky Christina Barcelona, sua obra prima, como um ponto final na bela frase que foi sua carreira. Me lembro de ter comentado a alguns anos quando vi Matchpoint, que o diretor tinha acertado perfeitamente em sua migração de Nova York para Londres. Na época acreditei que sua densidade de trama e diálogos, perdidos na cultura esvaziada dos EUA, teriam se encontrado. E apesar de ter defendido esta opinião em varias ocasiões aos fissurados em Allens’ N.Y., nunca poderia ter previsto o que ele faria de Barcelona. Mas preparam-se pois não trata de um típico filme Woody Allen.
     Paixão, real paixão, foi capturada poucas vezes nas telas. Identificado por um calor de inspiração que nos deixa silenciosos, respirando com leveza, semi-embriagados. É neste estado que observamos as paixões do filme que se infiltram em nossas almas. O filme é altamente sexual em seus detalhes ricos em cor, contraste, e cenário. Ao passar por Las Ramblas na tela, o filme nos leva a sentir o cheiro da rua cheia de vendedores. E sem nem se levantar o espectador, inconsciente, é transportado a Barcelona.
     A maior divergência do modelo Allen se encontra nos diálogos. Acredito que as falas originais foram abandonadas, em paradigma, por Penélope Cruz e Javier Bardem, dois dos quatro personagens centrais. A expressão destes personagens não segue o clássico dialogo ou construção lógica do grande diretor. As falas se mesclam entre inglês e catalã. Duas atuações impecáveis.
     Scarlett Johansson, talvez por ter virado costumeira nos filmes de Allen, já se enquadrou mais no estilo de discurso obsoleto que o diretor constrói. A atriz não deu nada de especial ao filme fora seu nome e beleza. A quarta parte do quebra-cabeça porém, Rebecca Hall foi brilhante. Até onde enxergo deve ter se mantido no estilo do diretor, mas teve um entrosamento tão grande com seu papel que cheguei a sentir sua falta na tela. Ela ‘vende’ a interpretação de uma americana neurótica, falando as palavras de Allen, mas com um ar autentico que poucos conseguiram fazer. Até a Diane Keaton, que em Annie Hall conseguiu vender sue peixe, deixou algo a querer nas demais obras de Allen.
     Com uma trilha sonora afiada, repleta de Café del Mar e Gypsy Kings, Allen conseguiu capturar a alma de Barcelona. E por mais que seria um ótimo filme para encerrar a carreira, o espectador em mim espera que ainda veremos o clássico “Written and Directed by Woody Allen” na Grande Tela novamente.

3 comentários:

Affonso H. Nunes disse...

Ainda não vi o filme, mas já estava com vontade, o que se acentuou depois da sua crítica. Adorei o começo do texto, muito inspirado.
Abraços
Affonso.

Paulo Borchert disse...

Caro Pedro,
Ainda não vi o filme, mas unanimidade total: não vi ninguem que não tenha gostado.
não se trta de uma crônica, mas um comentário muito bem feito, melhor que muito crítico de cinema por aí.
Parabens pelo português, perfeito!
Vai no seu e-mail que eu deixei um recado lá.
Paulo Borchert

Emerson Menezes disse...

Oi Pedro!
Também ainda não vi o filme, mas você me instigou mais ainda para vê-lo...
Bom texto!
Aguardo-te lá no naocaiboentreaspas.blogspot também...
Abraço!

 
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