domingo, 9 de novembro de 2008

Mãos Dadas

       Meu cachorro acredita que minhas mãos são independentes. Talvez por ser minha esquerda que o alisa da minha poltrona de domingo, enquanto leio os diários. Ou quer por minha direita ser mais proeminente na hora de castiga-lo. Com tempo meu ‘pequeno diabólico’, como gosto de chama-lo quando come meus sapatos, aprendeu a diferenciar, e agora evita a ultima por completo.
       Dizem por ai que o Candidato do Mundo ganhou esta semana. O Nosso Candidato como estão chamando. Acredito, mas pergunto o que é um homem se não um resumo de todas suas decisões e ações. Algumas publicas, outras nem tanto. Nada se define num momento ou numa palavra, existem sempre dois lados, uma foto vale por mil palavras... e outras frases esvaziadas.
       Vemos um ícone surgir das cinzas de um país que a décadas começa ( declarar não, aí seria serio) guerras e manipula acordos econômicos para sua própria vantagem, em detrimento daqueles que diz ajudar. Mas não quero interromper a euforia do mundo. Os analistas dizem que o mundo mudou. A unilateralidade que brotou na década de 90 morreu, e uma nova era esta prestes a nascer. Acreditam também o fim do neoliberalismo. Pelo menos defendem essas idéias em seus editoriais.
       Nós como sempre acreditamos e esperamos a mudança anunciada. Celebramos as eleições sem sequer saber as posições dos candidatos. E até quando sabemos, será que sabemos mesmo?
       Não duvido em alguns valores de Obama, e se votasse nos EUA teria votado nele. Sei por exemplo que ele será mais pragmático com o mundo do que seu antecessor. Também não sei como poderia ser menos. Especialmente diante das atuais crises. Mas lembro sempre que um Presidente deve ser um servidor ao seu povo. E por mais que se elegeu um homem de Mudança, será que as industrias, que há um século definem a política externa dos EUA, mudarão com ele? Espero que sim, há tempo. Mas a regra do jogo é lucro, e isso ainda não mudou.
       As empresas continuarão querendo menos regulamentação e burocracia para poderem competir com as Chinas e Índias do mundo. E nós, cidadãos comuns, não veremos estes incentivos refletirem nos preços. Um Presidente é um produto. Produto dos desejos das empresas, da economia, e dos cidadãos. Lamentavelmente nesta ordem. Será que o Nosso candidato nos olhará com o mesmo carinho que seus compatriotas na próxima reunião financeira? Ou até no dia-a-dia?
        Não pretendo ser um cínico. Se bem que sou, confesso. Mas existem horas quando nada é tão claro. As linhas ficam obscuras e o que passa por cinismo pode ser nada mais que bom realismo. Tal é o caso com meu cachorro. Por mais que ele se esconde da mão direita, não enxerga que a esquerda é fruto da mesma raiz. Quais serão as raízes de Nosso candidato? E com que mão será que ele regerá?

2 comentários:

Emerson Menezes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Emerson Menezes disse...

Oi Pedro!
Li a tua última crônica, apenas para dar partida a um ciclo, que pretendo fechar, ou até mesmo, dar continuidade - como a nossa tão conhecida Fita de Moebius, de que tanto nos fala o Prof. Aristides em suas aulas...
Bem, de qualquer forma, quero te dizer logo, que gostei muito da forma fluida e do gancho legal que foi traçado pelo teu cachorro, para metaforizar as velhas questões de esquerda e de direita.
Continuarei a leitura, certo que terei muito a cometar, pelo que já vi até agora.
(Só um comentário bobo, mas que acaba sendo um toque legal também, não que comprometa o trabalho em si - cuida das pontuações nas palavras, pois têm errinhos que certamente foram por descuido.)
Abração grande!
Saúde e paz!
Emerson Menezes.

 
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