quarta-feira, 2 de maio de 2007

MInhas conchas de crianca

Este sábado decidi ir à praia procurar conchas. A muito tempo não faço isso. Quando eu era criança costumava catar conchas na beira do mar e trazer-las para minha mãe. Ela brincava que se eu não parasse de catar tanto elas iriam acabar. Eu ria e continuava. Era a maneira dela controlar a quantidade de conchas que teria que carregar pra casa. Mas para mim as conchas eram inaliáveis. Ao crescer continuei procurando conchas, mas somente pro meu bolso. É esquisito. Isso eu sei, mas algo me faz pegar elas, e alem do mais é algo a fazer na praia.
Ao chegar na praia a água estava prístina. Sentei em minha cadeira um pouco e pedi um mate antes de iniciar minha caça. Olhei e olhei mas este ano não encontrei mais de uma meia dúzia antes de desistir. De volta em minha cadeira comecei a pensar na minha maior aventura.
Desde criança sempre quis ser um pescador. Aos quatorze anos assistindo um destes reality-shows, vi que na Alaska um homem pode trabalhar como pescador de caranguejo sem nenhuma experiência. Que sonho bom. Imaginava o primeiro dia abordo um barco daqueles nos mares gelados do norte do mundo. Pelo programa fui informado que os pescadores trabalhavam no barco por as vezes cento e oitenta dias. Enquanto imaginava a vida no mar podia quase sentir o gosto da água salgada nos meus lábios. Não demorei muito para me inscrever.
Depois de pouca pesquisa e dezoito anos de vida só levou uma semana para encontrar uma embarcação que me contrataria. Marquei com o capitão de nos encontrar numa dinner americana em Anchorage, Alaska. Aquela tarde o capitão do ‘Forrester’, navio em qual satisfaria minha curiosidade por uma vida cheia de mistério e aventura, me explicou como as coisas funcionariam. No final de nossa conversa ele me avisou que não sabia quanto tempo a temporada duraria aquele ano dizendo que os efeitos do aquecimento global tinham alterado as áreas de pesca e estava muito difícil encontrar caranguejos. Me lembrei de sites em que tinha lido sobre os grandes pescadores do século dezenove que perambulavam os mares por as vezes ate quatro anos. Mas não me espantei. Eu ia com os ventos naquela época.
Inclusive só fiquei espantado quando nossa temporada acabou depois de três dias. Perguntei a todos o que tinha acontecido, mas ninguém sabia. Fui descobrir depois que de acordo com as leis do sindicato dos pescadores, se não tivesse uma quantidade especifica de caranguejos por dia nos barcos a temporada acabava. Ninguém achou caranguejos. O capitão de meu barco berrava palavrões e quebrava seu gabinete enquanto eu como o resto ficava em silencio. Ao voltar pra casa infeliz e cansado decidi pesquisar os fatos.
O mundo como muda. A menos de cem anos atrás as embarcações de caranguejo ficavam meses no mar voltando cheias. Agora, três dias e já desistem. O mar estava cheio de peixe antigamente. Pode ser falta de sorte. Pode ser uma alteração real causada pelo aquecimento global. Eu não sei o que mudou pois não sou cientista. Mas algo, sim, mudou.
Hoje enquanto sento na minha areia de Ipanema, olhando o azul e verde penso só em minhas conchinhas amarelas. Fico pensando pra onde elas foram como os caranguejos que derrubaram meu sonho. Penso nos danos que as vezes fazemos sem saber. Mas no final do dia tomo meu mate e sorrio um pouco pensando , mamãe estava certa; elas acabaram.

Um comentário:

Beatriz disse...

Gostei, Pedro.
Isso realmente aconteceu? Parece tão real.

 
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.