domingo, 15 de junho de 2008

Palhaçada? Vai se acostumando...


         Se todos nós falamos o mesmo idioma aqui no Rio, fora os argentinos vendendo colares e pulseiras no arpoador, então por que não existe um diálogo maior entre as classes? Infelizmente, nossa sociedade é segregada em tudo, até em ônibus, onde 50 centavos pode ser a diferença entre até três classes econômicas.
        Me ocorre então que talvez a questão de língua não se define somente por idioma, e sim por uma equação de IDIOMA+CONTEÚDO. Sendo que o conteúdo, talvez, pese mais.
        As sociedades se dividem, irrelevante das políticas de inclusão, e sempre se dividirão. Não importa o que você fala; seja inglês, francês, ou árabe, o que realmente importa é SOBRE o que você fala... como se a divisão entre os tipos de linguagem ( Culta, Informal, e Vulgar) pudesse ser aplicada a conteúdo.
        No caso, existiria um conteúdo culto ( Wagner, Bauman, Costa-Gavras), um informal (Madonna, Kellner, Spielberg ), e um Vulgar (Mc Sapão, Paulo Coelho, Jim Jarmusch).
        Para explorar esta teoria, diga-se que três homens estão naufragados em uma ilha deserta. O primeiro, chamaremos de Helmut um banqueiro alemão de conteúdo culto. O segundo um sociólogo japonês Akira, também de conteúdo culto. E um terceiro, Wanderleison, um caminhoneiro nordestino cujo conteúdo seja vulgar (Se a realidade parece racismo, estamos mal). O que acontecerá?
        Acho que é realístico supor que Helmut e Akira por terem uma cultura semelhante formarão laços inalcançáveis a Wanderleison. Não que ele seria abandonado, mas o seu cânon, e por isso seu conhecimento cultural, o limitaria em muitas conversas. Formando uma barreira cultural. Talvez um exemplo fraco, mas se você entendeu, não canse minha beleza. (como diz minha bisavó)
        É triste essa realidade, até porque Wanderleison deve contar as melhores piadas entre os três, e possivelmente é o mais divertido. Mas as realidades não deixam de ser verdade só por serem desagradáveis, como acreditam grande parte de nossos políticos. 

        Mas por que todo este discurso? Porque se realmente as linhas da segregação de nossa sociedade se baseiam em barreiras culturais, ou conhecimento, então existe uma solução simples para esta segregação: a educação. Se Helmut, Akira, e Wanderleison fossem igualmente educados, eles teriam uma plataforma para discussão ou seja uma base para a integração.
      As notas divulgadas esta semana para nosso sistema de ensino foram um vexame internacional. E para provar novamente a habilidade de nossos políticos, o Ministro da Educação conseguiu sem vergonha na cara expressar felicidade porque aparentemente superamos as metas do MEC para este ano. Mil desculpas por o que vou dizer agora, mas, puta merda! Se esses resultados superam a meta, então talvez o Brasil esteja realmente perdido como dizem por aí. Será que alguém colocou Whiskey no meu café? Será que o jornal em que li esta matéria virou um diário de comédia sem que eu soubesse?
      Quando superamos nossas metas e a melhor nota média do país é um 5, para mim a política de educação está não só falida mas incentivando a ignorância.

Um comentário:

Maria Teresa disse...

Pedrinho, Pedro, Pedrão, Pedroca...
Você ainda é jovem demais para perceber que a qualidade do ensino no nosso país obedece a rígidos critérios de emburrecimento.
POVO CULTO, EDUCADO E SAUDÁVEL DÁ UM TRABALHO...
DE qualquer modo, parabéns!
O texto está ótimo e o seu português cada vez melhor.
Já pensou em cursar Jornalismo?
Uma beijoca,
Mª Teresa

 
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