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quarta-feira, 21 de maio de 2008

Enquanto a Roleta Roda...

O jogo de Roleta sempre foi meu preferido nos cassinos internacionais. Trata-se de uma mesa verde com uma roda roleta e um display de números em cores alternadas entre vermelho e preto. Neste display se colocam as fichas, ou apostas. Também pode se escolher apostar somente nas duas cores. Uma vez as fichas postas na mesa o “Crupier”, (cara que põe a bolinha na roleta) bota pra rolar. Fortunas se fazem ou desfazem na roda, e tudo pode mudar de uma hora para outra. Mas a roda é mais que um jogo. É uma metáfora para a economia mundial.

Digamos que cada apostador seja um país, e cada numero da mesa também. Podemos também ir um pouco mais longe e pensar nas duas cores da mesa como economias centralizadas(controlada pelo governo), e economias de mercado(de livre iniciativa). Nesta mesa, tradicionalmente, cada país apostava pesado em si mesmo, eventualmente colocando algumas fichas em outro numero, nunca em outra cor. O esforço de cada pais servia como lucro primeiramente dele mesmo. Mas a roleta rodou. E a partir de algumas décadas atrás, esta dinâmica mudou por completo.

Na economia moderna os apostadores jogam cada vez mais em outros números. Apesar de cor, procuram visar o lucro potencial. Alguns jogadores apostam em quase todos, estes chamaremos de superjogadores. Nesta metáfora a bolinha seria, claro, o tempo. E com este tempo é que vemos as apostas renderem, ou não. Eventualmente, os superapostadores têm que impor estrategicamente uma cor sobre algum numero, devido ao potencial de lucro. Mas os maiores conflitos de interesse não se encontram entre as duas cores, pois buscam objectivos diferentes, mas sim entre os números de cores similares.

Dizem que ganhamos um grau de investimento. O que isso significa na realidade? Em nossa metáfora seria o equivalente a uma reputação dada a um numero significando que apostar nele é confiável. Mas como que o mesmo pais que foi votado entre os dez piores lugares do mundo para se conduzir negócios pelo ranking do Banco Mundial em 2007, pode merecer agora tal aprovação na área de investimentos? Parece estranho? E é.

Chega de metáforas! A verdade é que o grau de investimento concedido ao Brasil, não é um aplauso mundial à nossa economia. Se trata de uma maneira dos superapostadores conseguirem liberar fundos para investirem aqui no Brasil. Por se tratar de um país emergente, o retorno pode ser bom. (É meus caros "país emergente" nada mais é que uma maneira bonita de dizer que não tem nada) E já que nosso próprio numero se ignorou por tanto tempo, tem tudo pra fazer aqui. E ai, o que isso significa para o Brasil? Investimento positivo? Talvez, mas imagina o que ganharíamos se o investimento fosse feita por companhias nacionais que pagariam impostos aqui.

E enquanto a roleta roda e os apostadores procuram cada vez mais o lucro internacional, onde esta nosso apostador? Infelizmente, no outro lado da mesa sozinho, apostando no dolár.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

As aventuras de Dom Antonio

Antônio Lars era um homem altamente compulsivo. Tinha sua rotina sagrada que incluía as atividades da manha, trabalho, jantar em casa entregue sempre pelo mesmo restaurante, e cama as nove em ponto. Seu único amigo era o porteiro Severino com quem falava todo dia por dois minutos. Ao marcar sua viagem o informou imediatamente para garantir que suas plantas seriam aguadas.
- Severino amanha vou viajar para Frankfurt com escala em Sao Paulo e Madrid.-
Com a cara de retardado que só o Severino sabia fazer e sem nenhuma ideia de onde ficava Frankfurt ele disse:
-Tabom Seu Antônio. É só deixar as chave que eu dou agua as plantas-
Na manha da viagem não quebrou nenhum de seus hábitos. Antônio acordou as cinco horas em ponto (em seu apartamento impecável) e ligou a maquina espanhola de café que já continha exatamente 4 gramas de café, enquanto tomava banho. Seu banho de exatamente quarto minutos lhe deixava um minuto para se secar enquanto o café ficava pronto. Saindo do banho numa linha continua ele pegava o café, abria a porta de casa para apanhar o jornal e se sentava em sua varanda. Cruzava a perna direita sobre a esquerda e lia o jornal ate exatamente as oito. Era um homem exato.
Depois de ajeitar tudo com Severino se despediu e saiu para o aeroporto pouco depois do meio dia. Sua viagem demorou pela observação de Antônio quarenta e dois minutos. Ao chegar nem notou a bagunça no aeroporto como tinha se acostumado a fazer para preservar sua sanidade. Com toda a calma e elegância que faltava no ambiente ele em seu terno azul, cabelo colado pra tras e carregando um guarda chuva como uma bengala andou até o balcão e disse simplesmente:
-Eu gostaria de fazer o check-in por favor para o vôo das seis saindo do Rio de Janeiro para Frankfurt com escala em Sao Paulo e Madrid. -
As atendentes do balcão, como o resto do aeroporto que não tiravam seus olhos do Antônio, se entreolharam por um segundo com um sorriso.
-Desculpa senhor mas não começamos a fazer check-in para este vôo ainda. Se o senhor quiser se sentar, devemos começar às quatro. -
O esforco de ficar parado no meio daquelas pessoas mal educadas jogadas pelo chão, foi todo desperdicado pois as quatro as cinco e as cinco e meia a resposta foi a mesma. “Só um pouquinho mais, senhor.” As cinco e quarenta e cinco ele voltou outra vez ja sem a calma e a tranquilidade que sempre carregava nos olhos.
-Madame, por favor, gostaria de fazer o check-in para o vôo das seis para Frankfurt com escala em Sao Paulo e Madrid. São cinco e quarenta e seis pelo seu relógio e vou perder meu vôo das seis. -
- Ninguém te falou não? Tá tudo atrasado. Você não vai perder nada! -
A gota de suor que apareceu na testa de Antônio ao ouvir estas palavras pareceu ser a ultima gota. Ele levantou o guarda chuva e começou a gritar,
-Vocês estão de brincadeira! Não sei como vocês podem fazer isto comigo! Isto é uma desgraça! Deviam estar envergonhados de trabalhar para esta companhia-
A atendente tentou explicar que não tinha nada haver com a companhia, que era devido ao apagão aéreo, mas a voz de Antônio não parou um segundo para ouvir-la. Logo uma platéia formou-se atras dele com seus gritos de protesto. Antônio continuou.
- Eu estou aqui há horas!-
- ?????-
- Vocês são umas idiotas com seus chapeuzinhos falando mais um pouquinho, mais um pouquinho…-
- ?????-
A situação ficou feia. Antônio tinha começado um protesto serio, e as atendentes do balcão não sabiam o que fazer. Não fossem os guardas que tinham se mobilizado para garantir a segurança nos aeroportos, teria dado guerra. Quando começaram a espancar o Antônio viram que o problema era maior que pensavam, pois um perfeccionista é como uma rocha só desiste morto. Antônio perdeu a briga mas a luta que ele fez usando o seu guarda chuva como uma espada contra s guardas foi épica. Quando finalmente arrastaram ele do salão do aeroporto os outros passageiros ouviram sua voz desaparecer…
- Eu tenho que embarcar no avião das seis para Frankfurt com escala em Sao…-
Varias brigas depois o soltaram no aeroporto. Antes de ir embora foi ao balcão da companhia aérea e lhes informou que nunca mais viajaria por aquela companhia.
Pelo menos não quebrou sua rotina. Às cinco horas do dia seguinte estava de pé e continuou como se nada tivesse acontecido. Saindo de casa encontrou o Severino na porta e explicou a situação dizendo:
- Já que não vou a Frankfurt você não precisa dar agua as plantas-
E Severino respondeu
- Porque que você não pega um ônibus, chefe?-

Pedro Widmar

 
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